RECICLAGEM

Carlos Edyl

Letras formam sílabas

Sílabas formam palavras

Palavras que depois de expressas

Nunca mais se calam

Em forma de frases

De versos incrustados no papel

Signos nem sempre submersos

Mensagem azul numa folha de céu

E o papel, depois de lido

Juntado e acumulado

Em gavetas são esquecidos

Ou então se ordenam

Encadernados e chamados livros

Em estantes ficam adormecidos

Amarelado, fica o papel quando envelhecido

E quase tudo nele que estava contido

O conteúdo, há muito já foi perdido

E do arquivo-morto, direto pro lixo

O papel é recolhido

Reciclado se faz sobrevivido

Com uso antes inimaginável,

Economicamente se reintegra ao ciclo

E ninguém mais se lembra

Das frases que hoje já não tem sentido

Palavras esvoaçadas, estéreis e descartáveis,

Sílabas sem som, atônicas, afônicas, atônitas,

E letras, meros sinais de aleatório grafismo

A linguagem tornada incompreensível

Ante a econômica e seu imediatismo

Hoje o homem, assim como o papel,

Só vale, sobrevive e se torna possível

Como matéria bruta, independente do conteúdo

Somente poeta para ainda assim se dar por satisfeito

Por algum momento quando lida sua poesia dizia tudo

E mesmo não transformada em dinheiro

De alguma forma pulsa ainda dentro de algum peito.

Carlos Edyl
Enviado por Carlos Edyl em 17/02/2007
Código do texto: T384652