chegado ao meu compadre

Queria falar de saudade, amores,

Esquecer rancores e causos mal resolvidos.

Quedei-me então a falar de amizade,

Um gaúcho que é só bondade e ouvidos.

Batizado no domingo, com nome de flor,

Que vira chá benzido se colhido na santa sexta.

Nomeado pela mãe, que Jurava ser guria,

Vestido de pretexta, no dia, em clara liturgia.

Não era dúvida com o rebento,

Era mais um sentimento, destes que as mulheres têm.

Julgavam que como vem, foi porque Deus mandou.

E o padre no batizado sentenciou:

-Não será o nome de flor que lhe trará o desafeto.

Este santo vivente nem ao mundo está desperto.

E já lhe acolheram elogios, maledettos.

Mas sempre tinha um inquieto com presságio.

Coçando um queixo, franzindo uma testa.

Resmungando asneira, prometendo festa.

Como se tivesse nojo e medo de algum contágio.

Quando aprumo este relato, de pronto me perguntam.

– Era margarida? Pois lhes digo que não.

A pele branca, amaciada de tanto cheiro,

Melena escura e bem untada, dum negro noturno que espantava.

Não tinha o amarelo trigueiro, característico daquela flor.

Vejam. Este crente desde o nascimento questionado.

Uma estampa que era um pealo, acompanhado da maledicência.

Tinha tudo pra dar errado e quedar-se aborrecido.

Mas, que o que dito aqui não seja esquecido,

O guri era guri, mesmo com todo o alarido.

Carregava um olhar marejado,

Destes de bota mulher de joelho.

Um sorriso relaxado quando em frente do espelho.

Era o contraponto pra estampa azeitada.

Um tipo bem treinado nas cosas da delicadeza.

Lá pras banda do banhado do Assis. Abandonou a tristeza.

E assim se criou. Virou regalo, no galpão do Chaleira.

Era dos mais procurado para o xote laranjeira.

Neste tempo, já não tão branco, pegou cor.

Não se sabe se por causa da flor, que carregava no nome,

Ou algum remédio contrabandeado.

Também podia ser do banhado, aquele amarelo cobreado.

Pois só o chá não faria aquele estrago.

- Das schwein. O Alemão do sobrado ralhava.

Até hoje não sei o que dizia o vermelho.

Apelidado de rajado, pois era assim desparelho.

Mas nada tirava o faminto do sério.

Conservava a crina bem lambida e espetada,

Encarreirada que nem cruz de cemitério.

Índio louco de enjoado. Bota bem engraxada.

Bombacha frisada, de dar dó da passadeira.

Guaiaca afivelada no mais justo buraco,

Nada reservado na cintura daquele triste.

No pescoço um lenço, amarrado em riste,

E a cor; não lhes confesso.

Na gordura da orelha um grão reluzente,

Mais que adorno, seu manifesto.

Seu tipo lisonjeado nas más mundanas distâncias.

Tudo porque além de delicado, achavam bonito, o distinto.

Pois juro. Ainda hoje não acredito que o crente se criou.

Tamanha a dor que sua mãe sentia,

Arrependia-se do dia que lhe floreou.

Este talvez seja o prenuncio da bondade,

Capacidade de toda alma feminina.

Levar junto no falar manso,

Gestos moderados e olhar dedicado.

Por outro lado passo curto e ligeiro se há algum pesteado.

O costume de ser solidário cultiva plenamente.

Presta-se a este capricho desde sempre.

Está lá o rajado, quando é pra acudir necessitado.

Faceiro, ainda vive o mausoléu,

Anda lá pros lados do tio Léo.

Passo o dia na explicação,

De uma empresa de serviço.

Pai de família. Hoje acompanhado de sua parceira.

Mulher flor de roseira, mãe de seus piazitos.

Não está mais solito. Um guasca cheio de amigos.

Também chegado ao meu compadre Luiz Rodrigo.

Dedicado ao Amigo Marcelinho.