O Consolo, O Incômodo e A Embriaguez

Passeio lentamente por todas as veredas de tortura. Os bichos continuam se contorcendo em meu estômago e as feras crescem em minha lentidão. O Tempo passa por mim sem pedir licença. O Tempo me arranha, mas não me fere.

Tenho o semblante riscado pelas marcas que a saudade gravou. Tive meu ímpeto rasgado pelo orgulho vão, pelo rotineiro desamor e pelo infiel abandono. Ganhei um olhar cabisbaixo, uma presença inócua e a resposta de que o passado galopa pela minha alegria. Ele não a esmaga, no entanto.

Tenho a Vida vivida de muitos amores pequenos, confissões banais, tão prolixas e imperfeitas. Tenho o grito implodido entre desejar e proferir. Tenho em minhas fardas as condecorações de todas as batalhas vencidas, carrego em minhas costas os louros das vitórias que logrei e sobre meu nome se debruçam risos em música, grafite, cores e metal.

A minha condenação soa-me às vezes uma piada, outrora uma ofensa. Consolo-me, incomodo-me, embriago-me. Espero cansada e arfante um tempo diferente deste, sem tamanho destempero, sem este medo, sem este silêncio alicerçado em ruído.

Espero o tempo de uma beleza que a irrealidade não cure, de presentes coloridos em minhas tardes cinzas. Espero o tempo Cubista, em que eu passeie por todos os pequenos mundos alheios e pelo meu próprio, livre e branco, de tão prosaico.

Fernanda Gadêlha
Enviado por Fernanda Gadêlha em 17/02/2007
Reeditado em 16/11/2008
Código do texto: T384909
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