O homem do realejo.

A tarde espalhava calor para todos os lados da praça. Os bancos lotados se protegiam sob árvores frondosas. De repente ele se chegou com seu realejo e se postou perto do coreto. Foi uma surpresa para mim, eu me senti de volta ao passado. Há muito não via aquele órgão portátil. O homem teria que girar a manivela para que o cilindro acionasse o teclado e fole, a fim de que a música fosse ouvida. Ele abriu a porta da gaiola e o periquito veio até o beiral da gaveta. Ali a ave faria a escolha do cartão colorido a ser entregue ao primeiro interessado em saber sua sorte. O homem tocou um trecho de uma valsinha, mas ninguém se chegou. Tentou uma segunda música e apenas um casal deu uma parada, os dois olharam para o periquito sem nada entender e logo se foram. Houve uma pausa. Nova tentativa, outra música se fez ouvir, mas nada aconteceu. O homem parou de tocar. A ave retornou ao seu poleiro e logo foram embora decepcionados. Pareceu-me que ambos entenderam a frieza que hoje habita dentro das pessoas. Ninguém soube aproveitar aquele momento para ser feliz à moda antiga.
Deyse Felix
Enviado por Deyse Felix em 26/09/2012
Reeditado em 01/01/2017
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