NO ÂMAGO
    Juliana Valis



Tu nasceste poeta...

Tuas lágrimas e teus versos

Apenas te guiam, trôpegos, 

Rumo aos labirintos de letras

Desenhados, enigmaticamente,

Bem no âmago de tua alma...




Tu nasceste poeta,

Embora não quiseste

Sentir tanto e bem mais

Que milhões de outros

Comerciantes de cores

De objetos, de tempos...




Mas tu és, irremediavelmente, poeta,

E tu não sabes vender nada

Além da própria chama,

Em tuas simples, vãs palavras

Com a força de quem sempre ama,

Além dos sonhos, dos tempos,

Perdidos no âmago de tua alma,

Tão incauta como os ventos,

Tão profunda quanto a cor que acalma,

Dando luz ao pranto e aos poemas sós...



E tu, poeta, podes gritar, correr

Mas não fugirás, assim, veloz,

De tua compulsão de escrever,

No mar, um verso que desabe em nós.




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Quadro de Vincent van Gogh, Noite estrelada.