O Desfazer

É fim de tarde chuvoso e ela chora ao telefone. Meus ouvidos desalmados enfrentam o diálogo com armas em punho. Sem amarras, almejam cerrar as fronteiras do meu íntimo, quiçá blindar meu ego, tão ímprobo e vaidoso. Mas, meu coração, distante das fronteiras e desprotegido das muralhas de contenção, inclina-se ante sua chuva de lamentos. Encharcado, o órgão motor se acanha. Enfraquecido e macambúzio, descontinua. Fingi desfazer e fenece. Cala por culpa, morre e esquece. Rescindi o pacto de existir para atender seus novos anseios. E por ela, a senhorita que chora ao telefone, desconstitui-se e encerra-se.

Heidn Cardoso
Enviado por Heidn Cardoso em 22/10/2012
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