Por onde anda
                      Aquele menino?...

 
Que andava na terra quente,                                                 
Que saltava no lombo do jumento,
tomava banho de chuva e de rio, ao mesmo tempo em que se jogava na lama!...


Por onde anda aquele menino,                      que se rasgou ao pular a cerca,                      
Que cortou o dedo ao descascar laranja?
 
Aquele menino que adorava um prato de feijão com rapadura, pamonha, canjica e mungunzá, mas também não dispensava a macaxeira, a batata doce, e o jerimum com leite; tudo comida do seu tempo e do seu lugar!...
Aquele que tomou banha de sapo para curar a dor de garganta...                                      
Que sentava na calçada para ouvir história do Seu Trancoso,       
Depois, brincava em noites de lua cheia; as brincadeiras da época: cabra-cega, manja... rodava no carrossel, subia e descia na gangorra feita de lasca da carnaúba; brincava soltando pião, corrupio, cabiçulinha(bila/bola de gude, boleba) e soltava arraia(pipa/papagaio), fazia gaiola e cavalo de talo.

 
É o mesmo menino que derrubava casulo de maribondo,
Que roubava favo de mel das abelhas do mato, que corria atrás de preá com seu cachorro Pery.
Na lagoa seca, peixe ia pescar: traíras, curimatãs, bagres, piranhas, piabas e carás...
 
Aquele menino que andava de gaiola na mão com o seu canário estalando e cantando,
Ele imitando com seu assobio a graúna e corrupião,
O galo da campina, o azulão, a rolinha cabocla, a velame e a cascavel...
 
Menino de pé no chão, menino que andava ao leu... Menino matuto e meio tabareu!

Aquele menino danado  que apagava a lamparina
Pra ver todo mundo aperreado no escuro,
Que muitas das vezes, fora chamado de menino maluvido, (pode se ler mal de ouvido) ou que não dava ouvido...
 
Era traquinoso, buliçoso, malinoso, tinhoso, corajoso e, às vezes, medroso!... Principalmente, quando se falava de alma doutro mundo...
Se é que tinha alma  entre aqueles viventes.
 
Aquele menino que andou do Oiapoque chegou pertinho do Chuí!...
 Saiu de Russas, em direção ao Quixeré,
Pernoitou no Guaçuí, mas antes passou pelo Alegre, Castelo, Muqui!...
Parou na Venda Nova, antes de partir para Vargem Alta... Desceu até o Cachoeiro do Itapemirim e foi parar no Belo Horizonte, das Minas Gerais.     
            
Ainda o viram lá pelas bandas da ilha do Marajó, 
Passou por Soure e Afuá, desembarcou no Macapá, em pleno delta do rio Amazonas.
Andou pelo Mazagão, atravessando o rio Araguari; deixou para trás o Tartarugal, ItaúbaI, indo parar no Calçoene. Chegando ao Oiapoque, andou beirando as Guianas Francesa, Inglesa e Holandesa!...
 
Rodou este mundo de meu Deus!...

Vazou no Chile, Argentina e Paraguai!...
Rasgou o Brasil, com se diz: de Norte a Sul!...
Não se esquecendo de que em suas andanças incluíram, ainda, o Rio Grande do Norte e o do Sul, além do Paraná e de Santa Catarina, também o Pernambuco, a Paraíba, as Alagoas, o novo e o velho Goiás...
O Piauí, Maranhão, Pará e bem como o vasto Amazonas; estes, não ficaram para trás!...
Infelizmente, ficou de fora o Mato Grosso, incluindo do Sul, Rondônia, Acre e Roraima... Tocantins, o conheceu como o ainda Goiás!
 
Menino que foi para Fortaleza, do seu Ceará.
No Recife,  um tempo ficou por lá. 
Em Aracaju,  do Sergipe foi morar,
Passou por Maceió, foi até Salvador onde comeu caruru, acarajé e vatapá!...
Dormiu nos Ilhéus, chegou à Vitória,  antes de ir ao Rio de Janeiro e São Paulo para trabalhar.                                            
Teve-se notÍcias dele na velha e nova Brasília, antes dos candangos, hoje dos canalhas!...    
Os primeiros deixaram lá os seus couros!...
Os outros!... Estes, foram pra lá só para tirar o couro do nosso povo,  que ainda aplaude de pé estes bestas,  que para mim não passam de filhos de lúcifer!...
 
Aquele menino, cresceu... e assim como eu mudou de voz!... Passou pela puberdade, arranjou namora, casou e hoje é pai, é  avô!...                                          
 
Aquele menino que desabou no mundo... 
A cavalo, de caminhão ou a pé, nesta estrada e neste chão...
Andou de navio e também de avião!
 
Enfrentou estradas tortuosas, céus de brigadeiros, mares bravios e rios caudalosos, de pororocas e de tormentas... Atravessou oceanos, andou no novo e no velho mundo... Viu Papa, reis e presidentes...
 
 
Por onde anda aquele menino?...
 
Que trazia com ele, a alegria e o prazer pela vida,  pela aventura, aventura esta, que todos deveriam viver um dia?...
 
Este menino, está, carinhosamente, guardado no meu peito!...
Carregando a saudades do meu eu!...


Este menino de quem tanto eu falo...
                       Este menino... Sou eu!
               
 
Russas, 23 de outubro de 2012.
Francisco Rangel
Enviado por Francisco Rangel em 24/10/2012
Reeditado em 20/06/2020
Código do texto: T3949210
Classificação de conteúdo: seguro