Prisioneiro dos moinhos
Jorge Luiz da Silva Alves



(Eugenio Recuenco, "Quixote Enclausurado")


    Trapaças das lidas contra o obscurantismo, esse negro lado da essência humana que deseja uma eterna padronização, sistematização de anseios, mediocrização(*) de espíritos: perdida a batalha contra a boçalidade, os moinhos do destino, armados e prontos pelos arautos do consumo e insuflados pelos xamãs do mercado, enclausuraram-me na cela dum conformismo e impediram-me de irromper contra tudo aquilo que representa o moto-contínuo alienante dos podres poderes da hierarquia social. Trapaças das lidas contra o obscurantismo: preciso de uma ideologia, de um sonho ou uma loucura que me permita tomar Dulcinéia nos braços, pô-la juntinho de mim na sela de Rocinante e cavalgar para além dos diques da Frísia, dos Duques de Alba, que me faça um iconoclasta de carteirinha e destrua, com minha lança invencível em paixão e insanidade, os santos-do-pau-ôco que, engravatados, encerraram-me numa quixotesca imobilidade da alma – apesar do Pessoa jurar que tudo vale a pena, não sendo a alma pequena...será?!   

(*) neologismo


http://www.jorgeluiz.prosaeverso.net


Jorge Luiz da Silva Alves
Enviado por Jorge Luiz da Silva Alves em 14/12/2012
Código do texto: T4034780
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.