O abraço das coisas
É porque a pele existe para nos separar do mundo, que podemos experimentar o mundo. Ela é a zona de fronteira, demarca o território do corpo, separa o que é deste, do que é do mundo. Tato e movimento se desenvolvem juntos, é o primeiro sentir do corpo. É porque não somos o mundo, que podemos tocá-lo e perceber algo de nossa dimensão.
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As pontas dos dedos mergulharam. Fios de cabelo foram seduzidos e debruçaram-se uns sobre os outros, ressoando uma energia calmante. O pescoço se pôs a apalpar a mão, e seguiu beijando o travesseiro. Delirante, alguns sonhos derramaram e começaram a escorrer – não se sabe se por dentro ou por fora-, e quando roçaram as pernas, as “ilhas flutuantes” nas costas, soluçaram. Os pés ficaram a se excitar, esfregando-se alucinados nos lençóis livres.
Enquanto Deus dançava, a pele deu forma ao mundo. É porque a pele existe que a alma tem onde morar.