Me Devora
Grande, bem grande mesmo, como o mundo.
E o todo feito em partes, mas misturado.
Como uma tela de Monet: pitoresca, agridoce e fria.
E a emoção que passa, vai assim mesmo, sem nenhuma fricção.
É que o futuro chegou mais cedo essa manhã,
Bem debaixo de nossos pés: o agora!
E em meio ao caminho, novos passos, novos jeitos, o mesmo trejeito.
O dedo indicador apoiando uns poucos fios de cabelo na orelha direita, sempre o mesmo sorriso.
Sempre...
A beleza, a espera e a demora.
E para sarar a noite, outro eufemismo, o nome da cura, aquela que despede a solidão.
A despedida e o milagre reconfortante do não, onde, afortunados com presença compartilhada, ambos se enamoram.
Tudo enquanto durar o quando, e o nada mais, por agora.
É que a incerteza consome a carne e degola o espirito.
O melhor mesmo é viver até acabar.
E depois, no fim, nada resta.
No mais, apenas a estátua na sala que, muda, chora.
E encontro no choro o conforto para a carência de palavras, ainda assim, sem medo...
De novo: apenas o inesperado.
O silêncio continua, portanto permanece a demora.
É que nunca foi tão fácil ser eu.
E a incerteza não incomoda, nem reverbera no não esperar.
Apenas o não tempo,
E a beleza do não no agora,
Que é meu, todo meu, me devora.