Inocente

Há um certo tempo as coisas não se revelam. Falta o nome, mas as mãos já se encontraram. Às vezes é uma manga da blusa que cai, outra rompe-se o sutiã e você pensa que é a mão dele que se aventura.

Certamente ocorrerá um tapa no primeiro encontro; é certo que dois amantes nao podem temer um ao outro e desde já fica instituido que o amor é uma coisa séria. E como levar a sério se o amor é uma questão a se resolver juntos? Antes que uma veia salte, ou que as unhas se cravem na pele do outro, antes das mordidas e dos beijos ousados, antes do amor primeiro, aquele que se vence nas colchas ou depois do amor último, aquele da reconsciliação após uma briga.

Mas também há sempre a inocência, a mesma do tempo em que meninas odiavam rapazes e a já vencida malicia, aquela que se tem quando se pensa nos beijos e nas falas dos apaixonados.

Ainda depois de pensar nos segredos e no amor, pensa-se nos amigos, é bom quando vêem no nosso rosto a felicidade, na nossa cara sorridente e tão previsível, sempre demonstrando o quão atônitos ficamos com aquele tocar de lábios...

As mãos já postas ao trabalho servem como fonte de carícias,

só talvez perca para as boas palavras dos apaixonados e para as ousadias dos que já se conhecem, exceto pelo primeiro dia, pois neste não se diz nada, ao menos nada muito esclarecedor: cor preferida? Gosta de chocolate? Qual fruta? Filme? Livro? Música? Número da sorte? Desejo ou sonho? e então o beijo breve.

Há um certo tempo tenho tentado descrever como seria de fato o encontrar das pessoas que se arriscam a isso, mas nao tenho obtido sucesso, tenho estado muito ocupado a querer viver tal encontro: _Azul... Sim, muito... Morango... Beleza Americana... Eu também!!!... Música... ééé...

Agora? Sei lá, talvez cor, talvez cinema. Um grito à janela, boa noite, beijo. Sonho. Amanhã?

Algo que se firme feito novela, exceto pelo final. O final tem que ser igual ao de sobremesa, aquela que se come quando se lambe os dedos sujos de terra do quintal e vê-se a infância estampada no avental da mãe.