Bandeira A Meio-Mastro

Céu cinza, fina garoa caía.

O ônibus seguia seu curso,

Assim como cada passageiro -

Retrato estampado da melancolia.

Ela tentou até sorrir,

Ouvindo músicas,

Olhando em torno,

Querendo se distrair.

Parou no farol vermelho.

Ao lado, um triste lembrete:

Um prédio ostentando

O luto brasileiro.

E todo esforço cai por terra

No instante em que a viu

O céu sem cores que,

Com a caída bandeira, contrastava.

Até a bandeira parecia triste.

O vento frio batia

Mas ela não tremulava

Caída, lamentosa, vazia.

Retrato nosso, cotidiano.

"Ela deveria estar assim

Por todos os dias do ano" - pensou

"Posto que tragédias anônimas

Afligem mães, famílias,

Um sem-número de seres humanos"

Ao pensar, ainda mais entristeceu.

"Num país em que a bandeira vive esquecida

Se nos lembrássemos de colocá-la a meio-mastro

Sempre que morresse um brasileiro,

Ela jamais tremularia!

Num país onde a segurança falha

Mas a cobrança não tarda,

Tantos são desprezados, ignorados,

Abandonados à própria sorte...

Seja num hospital, nas ruas,

Ou numa festa noturna...

Estamos todos à mercê

Do Estado corrupto,

Dos empresários gananciosos.

Nós, filhos, avós, tios, primos,

Pais desesperados..."

Pensou tudo isso

E olhou em torno.

Segue o ônibus,

Assim como nós todos.

Fernanda Bess
Enviado por Fernanda Bess em 29/01/2013
Reeditado em 30/01/2013
Código do texto: T4111004
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