Tudo bem...***

Essas flores germinaram de repente em mim.

Acordei com elas quando nada mais brotava do que eu via

e os meus pés arrastavam como répteis cansados.

Sei que os meus pensamentos são pétalas e os meus desejos

são toda a beleza que alguém arranca de meu corpo.

Eu deixo.

Penso apenas nas coisas que me morrem por entre os trópicos

com toda a delicadeza brutal que o prazer quase precisa.

A vida floresce dos meus dedos à beira do delírio, na esquina da nudez e da ousadia.

Gosto de morrer... fecho as portas, apago a luz

e me mato sem classe nenhuma, sem pressa.

Minhas atrocidades me comovem aos risos escandalosos.

Sou irracional comigo mesmo. Enfio a faca e furo os olhos do passado.

Não quero mais ver o que me cega. Esses ocasos são naturais,

fico expressiva como um inseto. Fico pobre mais uma vez e no escuro

penso que eu ainda não aprendi a amar direito, sou canhota para sentir.

Não faz mal.

Retalho as entranhas, sorrio com a boca fechada, derramando apenas

o que é necessário derramar, quando a vida já não “é” e nem "dá".

Essas flores abertas em mim me custaram caro: perdi quem bebia minhas palavras, perdi um punhado de coisas e de pequenas satisfações.

Tudo bem.

[o vento pode ainda me escutar, a lua ainda é a minha confidente fiel

e tudo que tem de "ser", com certeza será]

O negócio é saber como tropeçar. O que vier depois não será apenas amargo, será delirantemente amargamente doce.

Quem viver poderá se sentar e apreciar as minhas maldições e verdades antes que seja ontem, antes que seja tarde.

Cássia Da Rovare