A pomba azul
No amanhã no qual o mundo não acabou,
acordei e da minha janela olhei a imensidão.
Deparei-me numa manhã clara linda
com o vento norte prometendo frescor.
No horizonte o sol ainda espreguiçava-se.
Na minha rua os passos da esperança passavam:
uma criança feliz em pulinhos equilibrava-se no meio-fio
segurando a mão de uma doidivanas a caminho da escola.
Nos telhados corriam outras janelas que se abriam para o dia novo entrar.
Num flagrante de paz testemunhei uma moça donzela que conferia
o azul das penas de uma pomba que pousara no seu telhado.
Com ar de espanto constatou que eram tingidas.
Desiludida chorou e no desencanto do seu olhar crédulo
viu que o céu, onde mora o PAI também era azul.
Saiu de si como em oração e voou com as asas azuis da imaginação:
sentiu-se chegando mais perto de Deus
constatando que este azul sim, era todo real.
Manuel Oliveira