Apenas vultos

Madrugada fria e o ônibus não vinha!

No ponto, sob uma árvore,

Tentava desvencilhar-me da chuva.

Ao longe, um pequeno vulto criava formas.

Quanto mais se aproximava,

Mais meu medo crescia!

Era apenas um cão faminto à procura de uma lixeira,

De onde pudesse tirar alguma comida.

Deitou-se aos meus pés

E passou a me fazer companhia.

E o ônibus não vinha!

Outro vulto se aproximava, meu medo ainda existia.

Era um travesti, que em rendas, paetês e dourados,

Iria descansar para um novo dia.

E o ônibus não vinha!

Somente outros vultos vindos da escuridão da noite,

Ou mesmo de outra freguesia a me fazerem companhia.

E continuavam a vir!

O próximo era um pivete, que mal agasalhado,

Não sei se corria do frio,

Ou do cassetete de algum vigia.

A seguir, um jovem drogado

Que com gestos obscenos,

Não se cansava de maldizer a vida.

E por ultimo, me apareceu um bêbado,

Fazendo discurso e bem alto:

-Alguém ainda vai consertar este país!

E sob a mesma árvore, eu, o cão, o travesti, o pivete,

O drogado e o bêbado. Apenas vultos.

Não sei se escondendo da chuva,

Ou esperando um ônibus

Vindo não sei de onde e que nos leve daqui!

É, somos apenas vultos,

Mas, amsmos este Brasil!

Vó Didi
Enviado por Vó Didi em 09/03/2013
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