Apenas vultos
Madrugada fria e o ônibus não vinha!
No ponto, sob uma árvore,
Tentava desvencilhar-me da chuva.
Ao longe, um pequeno vulto criava formas.
Quanto mais se aproximava,
Mais meu medo crescia!
Era apenas um cão faminto à procura de uma lixeira,
De onde pudesse tirar alguma comida.
Deitou-se aos meus pés
E passou a me fazer companhia.
E o ônibus não vinha!
Outro vulto se aproximava, meu medo ainda existia.
Era um travesti, que em rendas, paetês e dourados,
Iria descansar para um novo dia.
E o ônibus não vinha!
Somente outros vultos vindos da escuridão da noite,
Ou mesmo de outra freguesia a me fazerem companhia.
E continuavam a vir!
O próximo era um pivete, que mal agasalhado,
Não sei se corria do frio,
Ou do cassetete de algum vigia.
A seguir, um jovem drogado
Que com gestos obscenos,
Não se cansava de maldizer a vida.
E por ultimo, me apareceu um bêbado,
Fazendo discurso e bem alto:
-Alguém ainda vai consertar este país!
E sob a mesma árvore, eu, o cão, o travesti, o pivete,
O drogado e o bêbado. Apenas vultos.
Não sei se escondendo da chuva,
Ou esperando um ônibus
Vindo não sei de onde e que nos leve daqui!
É, somos apenas vultos,
Mas, amsmos este Brasil!