RETRATO DA VIDA

A luz bruxoleante da vela

espalhava sombras fantasmas pelo chão.

O homem, mesmo assim,

mantinha um jornal diante dos olhos

procurando ler.

A mulher costurava, costurava, costurava.

Era um costurar sem fim

para dar conta do trabalho.

Os dois meninos, sentados à mesa,

faziam seus deveres de escola,

enquanto cantarolavam

refrões de músicas à meia voz,

quase que imperceptíveis,

para não atrapalharem o silêncio

quebrado apenas pelo barulho

da máquina de costurar.

Era uma família feliz.

Feliz?

Bem, sem dinheiro,

o homem desempregado.

Mas havia Deus ali dentro.

Uma grande imagem da Virgem

estava a um canto da sala, sobre o móvel

com a vela acesa...

Energia elétrica? Nem sonhar.

Por aquelas bandas ainda não existia.

Lá fora, a noite caía

e com ela a chuva a molhar os campos.

Da cozinha, ainda no ar o cheiro da sopa

que acabaram de comer.

E era só.

Depois iriam para suas camas dormir.

Acordariam no outro dia

e retomariam o curso de suas vidas

cada qual no seu lugar.

O trabalho, a escola, o desemprego,

as brincadeiras dos meninos enfim.

Um retrato da vida!

Simplesmente Romântica
Enviado por Simplesmente Romântica em 23/03/2013
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