SINÔNIMOS

Nos agarramos as palavras, como quem busca uma verdade. Como se pudessem elas, as palavras, exemplificar a plenitude de um tudo que nem se pode explicar.

E esperamos nelas, as palavras, porque nos faltam forças para experimentar a vida. É como a um socorro que galgamos às palavras, como uma corda rasa que te puxa para fora do abismo.

Mesmo sem pestanejar, nos deixamos guiar pelas palavras, embrenhados no significado, e sem dizer ao certo, o que elas querem nos falar.

E nos perdemos, como quem se deixa perder, nas palavras. Navegamos em suas águas, nos arriscamos em um mar de letras e, onda após onda, nos deixamos afogar.

Para matar a sede é que inventamos as palavras, mas nos esquecemos de seu veneno, doce e letal. Findados no medo e em meio ao receio, nos realizamos nas palavras.

Na cegueira, mapeando o caminho a percorrer, instituímos os sinônimos, os adjetivos e nos substantivos, as palavras. Suntuosas classes gramaticais, vernáculos e tempos verbais, que se vão e se esvaem na pressa midiática de uma modernidade rica em códigos e sinais.

Então os corpos, cadavéricos e desalmados, verbalizam mesmo sem palavras os sons e as vogais. Eles falam de palavras: fortes e fracas; grandes e pequenas; algozes; libertadoras; sagazes e letais.

Os corpos vivem, em toda sua plenitude, as palavras.

Elogiamo-nos uns aos outros por meio das palavras, atrelamos aos nomes nossas afeições. Enchemo-nos de significados por meio delas. No reducionismo, redundamos os sentimentos, ao nos perdermos no poço fantasmagórico e ineficaz das palavras.

No sentido dos corpos, o castigo e o dorso das palavras.

Nos vingamos com metáforas, com eufemismo e com mortalhas, porque esquecemos que o silêncio também é da palavra.

Santificamos a palavra e idolatramos os verbos. Endeusamo-nos nas palavras, às beatificamos, glorificamos e, por meio delas, até nos suicidamos, intensa e plenamente.

Encerramos, finalizamos e velamos com o luto as palavras. E mesmo os que delas não precisam, utilizaram-nas para existir.