Sobre a tranquilidade

Se você quiser imaginar a tranquilidade, imagine uma tarde de domingo véspera de feriado. Sinta um clima quente e abafado, o qual deixa tudo mais moroso e suado. Escute patos e galinhas ciscando num quintal de um sitio. Almoce o seu prato preferido, e como bastante. Até sua barriga ficar cheia. Não ao ponto de passar mal, mas talvez seja necessário afrouxar um pouco o seu cinto.

Deite numa cama, ou numa rede, ou quem sabe naquela poltrona velha que fica na varanda. Espere a chuva cair. Olhe para o quintal. Escute as gotas caindo nas árvores. Cada uma delas tem o seu próprio som. Ria das galinhas tentando fugir da chuva. Veja o gotejar das folhas formando uma poça dentro de uma lata de tinta vazia esquecida ao lado da casa.

Agora feche os olhos. Aproveite que a chuva mandou o mormaço para longe e descanse. Sinta o vento e alguns respingos de uma goteira próxima. Durma um pouco. Sonhe ou não. Acorde quarenta minutos depois com um cachorro lambendo o seu pé. Se espreguice e estale algumas partes do seu corpo. Levante-se. Tem um café, que acabou de ser feito, e algumas pupunhas na mesa do quintal.

A terra continua a percorrer as sua orbita elíptica ao redor do sol. O universo continua a se expandir para além do que conhecemos. Todos os relógios do mundo continuam a seguir ferozmente rumo ao futuro um segundo por vez. Mas aqui sentado ao seu lado - sentindo o cheiro de café fresco e vendo as nuvens de chuva em fuga para o horizonte - isso tudo pouco importa.

Azathoth
Enviado por Azathoth em 31/03/2013
Código do texto: T4216744
Classificação de conteúdo: seguro