Mais, de Marina
A própria antítese personificada
A dualidade de personagens,
Numa única personalidade
Selada, porém, mutante...
Sim, ela a própria metamorfose ambulante...
Ah! Amo-o, não como músico,
Mas como pessoa extraordinária
Imperfeita, incompleta, falha...
Muito me identifico
Eu, que hora sou Mary,
Hora, Marina,
Hora, nenhuma, apenas, ela, a vazia...
E Marina cantarolava uma música triste qualquer, enquanto dobrava as roupas recém tiradas do varal - o sol ainda impresso no tecido, o seu calor reconfortante combinado com o macio. Esperava pelo dia seguinte. E, no dia seguinte, esperava pelo próximo. Pensou que, talvez fosse bom se não precisasse mais ansiar. Se pudesse, apenas, viver.
Viveu mais uma tarde, em seguida. Contou muitas outras. Teve medo de passar a vida toda contando. Arrumou as malas, se olhou no espelho: menina. "Vou pra São Paulo, pra casa da tia". Respirou, esperançosa. Sentiu a vida, finalmente, soprando a seu favor.