Benzeção de Nhá Chica (prosa poética)

Benzeção de Nhá Chica (prosa poética)

-Nhá Chica, mantinha sempre pendurado do lado de fora do casebre, os restos mortais do animal sagrado.

É que ela benzia e fazia o chá do chifre torrado, misturado à rosas brancas.

Dizia ela:

- É um santo remédio, cura tudo:

Coqueluche, desinteria, dor de cabeça... e outros males, ainda se passar na pele cura inté cobreiro, dizia ela.

-Com seus 80 e lá vai alguma coisa,um cigarrim de paia num cantim da boca, seus cabelos preso a um coque, era conhecida em toda região.

Vinha gente de longe à procura de sua benzeção.

-Certo dia chega de mansim, um cabocrim magrelo as custelinha do cabra tava inté di fora, pudia contar os ossos.

Nhá Chica,num pensô duas veiz,entra pra cá misifio, ocê num tá bãum, se achegue senta ai nesse banquim,que já vorto.

-É que Nhá chica precisava colher alguns ramos,o caso merecia mais atenção.

O caboclo já estava que não aguenta. Nhá Chica,chegou devagarinho, preparou o unguento, deu-se inicio à benzeção.

-O camarada foi se agachano,incoiheno, Nhá Chica num parava não,inha rezando baixinho,inté os isprito ruim se afastar.

-Ah! dispois da benzeção o cabocrim se alevantô, divagarim foi dando vorta de roda do banquim. Nhá Chica só oiano aquilo,prestando atenção no cabocrim.

Ele foi se aproximando dela e parou, ocê é boa memo né,agora tô pricisado de um gole d`água,pramode sigui camim.

Nosso Sinhô qui te guarde!

Exclamou Nhá Chica.

Autoria/Aucione R. Silva

MAIO DE 1989