Naufrágio

Um cigarro no dedo, um sorriso no rosto

O peito sangrando, a respiração falhando

E a certeza de que tudo valeu a pena.

Menos de dez minutos de vida restando.

Dá uma última tragada no cigarro

E o deixa cair na areia aos seus pés.

Levanta-se e caminha cambaleante em direção ao mar

Enquanto solta a fumaça de seus pulmões

Lenta e dolorosamente.

Faltam oito minutos agora.

Alcança a água salgada, que faz seus ferimentos arderem

Mas ele sabe que merece cada nuance daquela dor

Foi o que sempre buscou

O que sempre ganhou.

Cinco minutos.

O tempo passa devagar quando o fim se aproxima

E ele acha graça de tal ironia

Sempre teve a sensação de que sua vida acelerava

E agora ela praticamente para diante dele.

Pode sentir seus últimos dois minutos

Passando entre os dedos de suas mãos

Dissolvidos na água.

Há mais tempo que sal

Nos últimos trinta segundos.

Ele afunda então

Os olhos fechados o apresentam à escuridão

Que se completa quando a água preenche seus pulmões

Engolindo seu último instante de consciência.

Nada mais resta

Além de um corpo flutuando na praia

E uma cidade inteira em chamas.