Página em branco
(Claude Bloc)
 
Mais uma vez uma página em branco. Branca e indiferente. Por um momento a mão começa a arte. Não sei se maior ou menor. Um esboço apenas a lápis. Um rabisco... e as palavras escondidas vão surgindo na brancura do papel, escapando em linhas.
 
 De início, meros pensamentos esfumaçados. Vestígios de algum bordado dobrado em versos. Algo que corta a página ao meio sem piedade. Aos poucos, o poema vai crescendo, rindo e o sonho afiado vai se perdendo nos (des)caminhos das imagens refletidas na transparência dos sentimentos.
 
Palavras farfalham no papel. Dançam uma valsa, dedilham um violão. Representam apenas a (des)memória amarelando o passado. Versos vão surgindo, um a um - unidos e ao mesmo tempo tão (des)iguais...
 
Pouco a pouco outras palavras buscam a brancura do papel e se estendem preguiçosamente... A mão que escreve já nem desenha as letras, as palavras sequer existem nesse ajuntamento de verdades. 
 
São  palavras que ficarão inscritas na alma até que a noite as apague na escuridão, reciclando o fluxo da vida. A marca do sonho...