Souvenir

Era o prazer genuíno de tê-lo, apenas por que - e quando - eu quisesse tê-lo, sem pensar no que os outros diriam, esquecendo quem nos esperava depois. Era o prazer de saciar o desejo de tê-lo como saciaria todos os meus desejos banais, de comer, de dormir, de caminhar.

Mas esse prazer era especial, já que tinha o teu sorriso largo e frouxo, teu riso alto e a tua voz açucarada inventando birras de amor. Tinha o roçar da tua barba em meu pescoço e a tua respiração ao pé do meu ouvido.

E então eu ganhava o resíduo de teu cheiro em meus cabelos e a vermelhidão em meus lábios, após percorrer teu corpo com minhas mãos e arranhar levemente as tuas costas, sentir entre meus dedos a textura de sua pele - decorava-a, para repeti-la de manhã.

Mas agora tudo é pouco, sem a tua foto pregada no meu caderno de frívolas anotações, sem meu repousar em teu ombro, sem o respingar de tua presença em meus dias, sujando meus livros e meus amigos.

Os dias são frios sem a espera por ti, e sem fazê-lo esperar-me, enfim. Sem meu perfume amadeirado esvaindo-se pelo ar, apenas para permitir a meus poros dizer, e meu corpo como um todo sussurrar "eu te quero aqui, não te vá".

Fernanda Gadêlha
Enviado por Fernanda Gadêlha em 28/03/2007
Reeditado em 16/11/2008
Código do texto: T429371
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.