Tão sem tom

E hoje está meio apagado, meio morto, ranzinza

Está tão vazio, tão vago, tão fúnebre

Tudo tão passageiro, tão sem sentido

Coisas sem noções de existir, existindo

Coisas talvez nem tão necessárias, que não completam nada, só existindo

E tudo continua tão sem par, tão sem lar, tão sem tom, sem cor

E os dias passam por passar

Estou esperando uma hora que não quer chegar

E os dia passam, não tão devagar, sem pressa

Mas estou com medo de que venha passar

E ainda não estou cheio, continuo sem voz, sem melodia

Sem forma, sem um traçado qualquer para me inspirar

seguem, estes olhos, os ponteiros do relógio

E tentam um tanto desesperado, não pensar

Essa é minha mania, um tanto louca, de sempre pensar

Mas continuo tão só, tão perdido

E ali estou, naquele canto do quarto, esperando um castigo qualquer

Abraçando o único calor que posso provar

O calor de minhas próprias pernas, que já exaustas não querem caminhar

Embora tão lindo, esdrúxulo, embora tão forte e imponente

Abalo num semitom particular, de uma canção que não sei cantar

E decoro suas cifras como quem colore seu poema com sentimentos que não sabe expressar

E por mais que eu queira vagar e esconder na multidão

Não esqueço aquela rima que canta… Tão só, tão vazio, tão passageiro

De tanto ouvir qualquer melodia que ao meu deleite trouxesse conforto

Fiquei surdo de vez

Tão no meu mundo, onde só ouço aquela canção

Embora não seja uma lembrança, é meu único som sem lamentar

Hoje tão poeta, tão cativo de todos

Eu não sei como cantar minhas frases sem rima, mas sempre com o mesmo refrão

E continuo tão cheio de tanta coisa, menos do que realmente almejo

Estou tão vazio das coisas, tão cheio de tudo

Tão carente, tão cheio de palavras e sentimentos

Tudo em tom de tão, para cantar que simplesmente estou tão sem você