Hoje eu ganhei um amigo...
Hoje eu ganhei um amigo. Um amigo de verdade. Não desses que tem aos montes por aí, do tipo alguém que vem, bate nas suas costas e diz “aí meu amigo!”. Esse me trouxe uma caixa, dessas enfeitadas com laço e fita, dourada por dentro e por fora e que quando a gente abre quase cai de costas com tamanha surpresa, porque dentro tinha um coração. O dele.
Ontem eu ganhei um amigo. Mas um amigo muito especial. Um amigo que me mostrou que ainda existe humanidade no ser humano e que eu posso ser melhor do que já sou. Mas que eu já sou melhor do era, por ter ganhado esse amigo. E que a vida pode valer mais a pena e ficar mais fácil quando se tem um amigo. Mas tem que ser muito especial como esse que eu ganhei.
Outro dia eu ganhei um amigo. Eu nunca havia ganhado um assim. Ganhei alguns ao longo da minha existência, a maioria era de papel ou de plástico e derretiam ao menor sinal de intempérie ou de calor extremo. Outros ficaram “amigos” enquanto eu era doador. Quando a fonte secou ou a roda parou, eles secaram ou pararam também. Esse não. Esse que eu ganhei outro dia não quer nada de mim. E nem eu dele. E tudo pode ser compartilhado.
Já faz um tempo que eu ganhei um amigo. Tem amizades que são como carvalhos na floresta. Frondosos, rígidos e imponentes. Mas basta um pequeno inseto a corroer as raízes ou um pouco mais de água a apodrecer o tronco, e tudo vem abaixo. Outras são como lagos plácidos no verão. Refrescam, cheios de flores em suas margens e peixes coloridos em suas águas cálidas. Mas basta um pequeno inverno, as flores somem, suas águas congelam e se tornam traiçoeiros tapetes gelados. A amizade que eu ganhei não é nada disso. Nem isso, nem aquilo. Ela é simples como o homem do campo, mas sólida como o granito do Corcovado. E eu ganhei do meu amigo.
Eu ganhei um amigo. E nada é mais gratificante que ter um amigo. Mas tem que ser esse tipo de amigo. E desejo ser esse tipo de amigo também. Meu coração foi presenteado. E estou certo que ele o recebeu. E o resto... O resto não faz a menor diferença. Porque agora eu tenho um amigo.