Metonímia

Verdades embaladas em papel de bala.

E o plástico envolvendo toda a cidade.

Metros e mais metros de um pano artificial.

Na penumbra, ao longe, um sorriso disfarçado.

Toda a dor que se pode reduzir e esconder dentro de um frasco de vidro.

Emoção comprimida a vácuo.

Processo siderúrgico; com aço e solda quente, que é para não soltar, não desgarrar, não se quebrar.

Ainda sim, fragmentos escondidos sob o carpete velho da sala de estar.

Meias sentenças de palavras ditas.

O “tudo” já não basta.

Um elevador percorre a noite, viajando entre os andares, subindo e descendo, até onde não se pode mais chegar.

É mais um, entre os vários elevadores.

Aperte o botão na hora de parar.

Perdidas na madrugada, algumas sirenes, solenes e sonoras.

No raivar do dia, o som do trânsito e do metrô.

O cheiro hermético da cidade densa irradia com o porvir da aurora.

Uma estupidez rígida, que já não se pode mais suportar.

De pessoa para pessoa.

As meias verdades agora são sentenças inteiras. E o que era brisa, agoniza em chuva e água, que molha, lava e purifica.

Como se pudessem elas, as mentiras, se reverterem em verdades.

Reduza o fenômeno e o verás como ele realmente é; em partes.

A visão turva por trás da lente dos óculos escuros que só sabem mesmo mentir o dia, esconder o real colorido do céu; metendo um marrom, cinza e opaco negror a tudo e na vida.

A gente se acostuma.