Aqui
(Claude Bloc)

 
É sempre aqui, nesse abraço que me encontro. Entre os braços dessa terra. Minha terra, meu lugar... Quando estou em silêncio, sigo minha bússola apontada para alguma porta, assim, bem simplesmente. Nem sempre sigo ao norte ou ao sul, nem sempre vou na mesma direção. Mas obedeço a esses anseios, pois já decorei o mapa que reflete meus sonhos, nesse espelho onde sempre me encontro. Diante desses reflexos me detenho e sigo qualquer desafio nessa estação singular da minha vida... e no final dessas horas, acabo por encontrar meu norte, por sorte.
 
Sigo pelas estradas em cada um desses ensaios, estradas repassadas por meus passos em busca de mim nessas nesgas de lembranças. E é aí, exatamente aí, que acabo por me encontrar, em cada pequeno detalhe.  
 
E me transformo no meu próprio mundo. Um mundo onde me concentro e onde reflito minha vida. Meu espaço predileto, meu habitat, minha casa. Lugar onde adormeço em paz, sob o abrigo dessas paredes que são como braços me cercando de abraços. Nesse lugar exato, onde me encaixo porque em tudo o que vejo se reflete a essência do que gosto, onde tudo me acolhe e me nina com a doçura que almejo. Aqui eu sou eu mesma - a dona desses meus sonhos. Aqueles que teimam em se manter à minha volta.
 
Aqui ouço minha voz, solto meus sorrisos e pressinto a música que enche de paz meu coração. É tudo sossego. Aqui meus sentimentos são presença e recobrem esse lugar inteiro de confiança, de paz. De sentir.
 
Então, na verdade, sinto que não há partida, só chegada. E a cada volta a descoberta e a revelação de outras saudades que retornam e refluem como fontes, fachos novos de luz que invadem as minhas janelas. Cheiros familiares de alegria, desde o primeiro toque no portão. Porque a minha presença aqui é a ausência de outras vozes impregnadas nesse mar solitário que a saudade traz de volta.
 
Então, a alegria passa a ser como um telhado que me protege das tempestades por conta tantos de outros risos. Onde o bom humor impera e me protege das armadilhas da tristeza ou de qualquer perigo.
 
Então chego e não fecho a porta. Aqui é o meu lugar. Tudo que preciso terei, se souber amar o silêncio dos dias, até lançar-me a novos limites sustando a imprudente e audaciosa saudade. Aqui é tudo tão fácil, tão possível. Aqui onde espanto meus medos e minha solidão.