CÂNTICO DOS OPRIMIDOS

Habitam este solo homens selvagens, espíritos rebeldes, mentes irracionais. Nem todos os cantos, apregoantes de paz, vivos de eloquência, de melodia encantados, são maiores que o pranto, do pobre a clamar, justiça a bradar, sem Deus a escutar.

Nem todas as vidas, deveras vividas, de todos sabidas, me fazem lutar. Nessa melodia, não há harmonia, e a morte dos povos não está a cantar.

O deus capital é hostil e infernal, poderoso e mortal, veja-o só triunfar.

Meu cantar é honroso, também lacrimoso; meu Deus, o repouso me vem a calhar.

Onde está a alegria, o fogo que brilha, a luz que irradia, o ardor que anima a paz a esperar?

Não sei se sucumbo, se luto ou desisto, se morro ou resisto, não posso parar.

Que as nuvens se unam, dos céus sobrevenham o JUSTO a reinar.

Que o sol se converta, nçao mais nos aqueça, que então se esqueça de nos molestar.

O alento que tenho é um sopro de vento, que rouba da vida o BEM conquistado.

Sobrivive o mais forte, o fraco se retorce, está-se na selva, não dá pra mudar.

Resplandeça a razão, os homens são irmãos, pela paz e união, nos emancipar.

Meu chorar é o sangue que rega este solo, levanta os povos e os põe a clamar.