Era uma vez
Eu não era princesa, não mesmo.
Também não era gata borralheira. Simplesmente era uma menina.
O que eu tinha me bastava.
Á noite tinha um céu salpicado de estrelas, quando amanhecia
tinha o clarão do sol.
Tinha ar[puro], mato, e alento.
Tinha as cores do cata-vento.
Tinha os pés descalços na lama, na terra cascalhada, e as traquinagens da meninada.
Eu tinha os verdes campos pra correr e rodar a saia rodada, soprar dente-de-leão ao vento e depois tentar pegar com a palma da mão.
Eu tentava seguir no céu o rastro do avião.
Tinha as estações do ano,pegava chuva quando vinha da escola no verão,esperava as tempestades em dezembro,pra poder colecionar granizos em potes de maionese ,colhia meus amores[mais que perfeitos] na primavera.
Eu tinha pomar,pé de manga pra corda pendurar e tranquilamente nas tardes de domingo,impulsionar meus pés no chão e voar de um lado pro outro,ora mirando um fruto, ora o azul em meio ao verde.
Eu tinha sede.Tinha tanto.
Tinha a inocência da infância.