Morreu de mala

Quantas seriam as dignas formas de morte

para um homem de ilustre grandeza

tamanha competência, infindável reconhecimento,

e incomparável mal caráter, quanto os de Paulo Ferreira Albuquerque?

Pudera morrer de desastre, ataque cardíaco,

engasgado com o escargot que pegou vias erradas,

ou quem sabe até vítima de latrocínio,

manchete tão comum nessa selva de concreto armado,

a qual ele mesmo ajudou a construir.

Mas achou, o homem, morrer de mala.

Não por o mala que sempre foi.

O mala que mentia pra mulher às noites de quarta, dizendo que iria jogar,

Que operava cartel,

Que tirava proveito de tudo.

Que, se pudesse, venderia até o fígado da própria mãe.

Mas ela já morrera.

Morreu literalmente de mala,

ou melhor, pela mala.

Assassina mala.

Saiu apressado,

Acenou para um táxi

Levantou sua mala

Pesada mala

Quebrou-se a alça

Desequilibrou-se.

Foi de corpo inteiro ao chão.

Conheceu seu crânio o meio fio caiado.

Traumatismo mortal.

Morreu de mala.

Quem lhe mandou tentar ser mala e comprar mala com o coreano mala da esquina?

Souza Rafael
Enviado por Souza Rafael em 14/08/2013
Código do texto: T4433828
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