HOJE O MEU QUINTAL

Hoje o meu quintal curou-me de tantos males...

Alguns nem eram meus, mas o mundo me contou que deviam ser, e nem sei certo se carreguei com eles. Como certo complexo por minha estatura, sou baixinha, 'mas que relativo é isso' contou-me uma plantinha de pimentos, era diminuta, e estava dando seus pementinhos, como as outras...

Olhei para os pés de milho, alguns medem mais de 3 metros, outros são muito mais baixinhos do que eu, e todas são mães que criam suas espigas, como criaria o ventre de uma mãe adolescente....

Dei um rodeio para não destruir a casa da aranha que habita uma rua entre duas plantas de pimentos, sempre me aterrorizaram as aranhas, mas esta, por primeira vez, não me deu medo: quando uma emoção nobre (como foi salvar a vivenda e vidinha da aranha) se impõe o medo recua. O quintal me curou de meu medo às aranhas, mas foi necessário eu perceber e narrar essa cura... o quintal não pode fazer o trabalho sozinho...

Me senti grande, capaz de criar, como a mata dos pimentos cria seus filhos, os pimentos, eu crio os poemas, que são meus e do mundo, e lembrei que na aldeia, donde o mundo era do tamanho da gente, se dizia: 'debaixo da terra todos temos 2 metros', Ficaremos todos igualados, mas antes de morrer medimos cada um o que nos é próprio... O quintal tem tanta sabedoria para oferecer, e só ficar a espreita e reparar...

Sei que ainda me pode curar de de ti, de meu medo a perder-te, de meu medo a perder-me...

Concha Rousia 18,9,13