Dois mundos, uma junção

Nasci bicho-do-mato e me criei no sertão, com um quê de metrópole que sempre me foi peculiar. Diários à parte, livros em volta. Não há na memória realidade diversa e companhia mais constante. Sou “toda olhos” e sorrisos me fascinam, embora insistam em indagar se estou triste. Nessas horas, me pergunto se eu tenho esse direito; a resposta é todos (têm).

Nasci dentro de um poema, cheio de versos, minha vida nunca foi muito bela, mas me agrada contar a quem quer que seja o que tanto me afeta. Minha inspiração vem de dentro e não do mundo, sou produto daquilo que eu próprio invento. Sou bicho homem, mas às vezes choro, não me importo com o que os outros pensam.

Pensar é minha sina. Poesia nunca foi produto. É na prosa que me encontro, entre um parágrafo e outro. Inflamo lendo poemas. Abrando a vida com vírgulas. Tu lírico, eu prosa, o papel libertação.

Às vezes também me arrisco por vias desconhecidas. Escrevo por que preciso, isso é o mais importante. O resto quem garante? Me apaixono fácil, viajo pelas palavras. Grito para o mundo o que eu sinto, o que eu minto e o que eu invento.

A gente inventa verdades para ter de quem se esconder e grita-as ao mundo inteiro, restrito, por ora, a quem quiser ler. Mas, a maior verdade de todas é que somos o que está escrito – materializados em papel ou pedaço, feio ou bonito. Pelos muros da cidade, dentre os muros de algum lugar, na tinta gasta para expor o que em si não cabe. É ali que mora a alma ou o que dela se perdeu. É assim que me apresento. Prazer, eu.

Meu nome pouco ou nada importa, não tenho fama nem fortuna. Mas se quer mesmo saber, prazer, é Valter. Escrevo por que preciso, ninguém tem nada com isso. Gosto mesmo é do vazio das noites de tempestade, da moça bonita que passa, do sol que invade a casa.

Natália, que mais ou menos quer dizer nascimento. Esse é o nome ao qual tenho tentado fazer jus. Quero nascer a cada dia, a cada texto. Quero o pretexto de me permitir ser sempre outra, afinal foi para isso que nasci. Gosto dos finais de tarde, do barulho que o silêncio faz e de não me incomodar com ele, muito pelo contrário. A calmaria me acomoda. Minha moda é não renegar quem sou diante de qualquer vitrine.

Somos assim, uma mistura de sentimentos e de sensações. O mundo é o nosso caderno, nosso diário, nosso livro, nossa poesia viva. A literatura nos une, assim como une as almas de todos aqueles que se perdem em pensamentos.