Palidez

Tá legal assim. E eu ainda tenho uma prova teórica para estudar e uma prática para realizar. Por um segundo esqueço o quão óbvia foi essa distinção. Perdoe. Estou um grau acima na minha escala de loucura disfarçada de sensatez. E, sim, o dia amanheceu bonito. O mundo está mais leve e minha postura tem melhorado. As vértebras comemoram. Nada disso faz sentido, mas como são lindas as palavras soltas. E como eu sou mais bonita quando sou mais eu, sem modéstia alguma. Não é o rímel; são os meus olhos. Não é o batom; é a boca. Não é o blush porque dele eu sempre esqueço. Descobri que esquecer é diferente de enterrar a dez palmos do chão. Esquecer é lembrar sem sentir muito, assim como quando esqueço o blush e penso que ele é tão desprezado, coitado, mas amanhã dou um jeito nisso. Compreendo o que é ser um blush na vida de alguém sem grandes dons artísticos e de memória falha, pra não dizer seletiva. Pasme - eu fui um blush. Eu já não fiz falta alguma ou, vá lá que seja, fiz uma pequena diferença no semblante alheio. Não era indispensável, mas era um adorno digno de menção, até que um dia, cansada do mofo rotineiro, joguei-me ao chão. Foi libertador. Ver a sua cara surpresa, que não mais se embelezaria às minhas custas em um dia qualquer. Eu estava aos cacos e você, que pena, não ousaria tentar juntar, afinal a louca dessa história era outra. Sozinha, pude me reconstituir e misturada à poeira do chão, poeira de todo lugar, me fiz mais forte, mais densa. Você, que não se mistura ao que resta da estrada, ficou sem cor. Eu mudei todas as minhas. Quem será que ganhou mais?

Natália Meneses
Enviado por Natália Meneses em 29/10/2013
Código do texto: T4547242
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