A peça de todos os dias.
Meus pés pedalavam nas nuvens de algodão doce,
E a cada oportunidade que encontrava, era uma mordida.
Os trovões avisavam que as luzes iam de chegar,
E o grupo descia do céu, para em terra firme tocar.
Acordei.
Já me faltava energia elétrica, mas minhas pernas,
Singelas, magrelas, não paravam de dançar.
Peguei a lamparina, tão bonita porque brilha,
E fui à janela, para esperar o show que ia de chegar.
O cheiro da terra dava o terceiro sinal do teatro,
Abri as cortinas e as janelas.
Lá vinha a primeira atriz.
Mesmo que fina, era a chuva que dava o ar da graça,
Montava-se desfilando, no desfiladeiro das montanhas.
Não pude mais aguentar, e clamei pelo raio.
- Senhor raio, onde estás?! – Gritei.
Como se me ouvisse, lançou sua raiva contra a minha casa,
O telhado desabou, minha mãe se embraveceu.
E eu fechei os olhos e participei da peça.
Ri, gargalhei e dancei até pegar minha bicicleta,
E voltar pro céu: os bastidores da grande peça do mundo.