Com meus botões...

Um dia aconselharam-me: não abandone a Musa.

E eu encontrei essa carta entre velhos escritos...

no preciso instante em que ecoavam em meus ouvidos

certos conceitos nefastos sobre a poesia.

E, eu já havia me esquecido desse pedido ingênuo

apenas uma frase solta em meio à uma carta antiga...

Aquele escrito pareceu-me, então, profético...

Talvez, como se soubesse que, em algum momento eu colocaria em cheque

toda a veracidade da expressão poética...

por serem tão importantes essas pessoas que desprezavam os versos

uma pelo seu afeto...outra por sua autoridade...

e, nenhuma delas encontrava alguma utilidade

em versejar sobre estrelas e desconhecidos caminhos

e todas essas coisas que a imaginação poética inventa.

Encontrei-me então numa encruzilhada

que só a mim importava, a mais ninguém

e tive que conversar muito a sério com meus botões...

pra decidir,enfim, que estes não pertenciam a meu cotidiano

e nem abotoavam minha prosaica blusa de pano...

mas saltavam como botões de rosas ante meus olhos...

a cada argumento lógico que me surgia.

Assim,ignorando afeto e autoridade, optei pela poesia

essa que muitos não conseguem nem podem sequer entrever...

e, não sei se lamento ou não por eles...

porque seus talentos em outras áreas se expressa

e a eles, o mundo não se cansa de reconhecer.

Só lamento, sim, por essa injusta solidão

a que se condena o poeta

quando enxerga sozinho as sementes de transformação

em si mesmo e em todo mundo ao redor...

(mesmo cultuando a inutilidade de todas as coisas...)

Enquanto aqueles seres geniais,

responsáveis pela construção deste mundo

passam distraídos por sua Musa inspiradora,

sem jamais reconhece-la...

Mareluz
Enviado por Mareluz em 03/01/2014
Reeditado em 15/01/2016
Código do texto: T4635097
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