Com meus botões...
Um dia aconselharam-me: não abandone a Musa.
E eu encontrei essa carta entre velhos escritos...
no preciso instante em que ecoavam em meus ouvidos
certos conceitos nefastos sobre a poesia.
E, eu já havia me esquecido desse pedido ingênuo
apenas uma frase solta em meio à uma carta antiga...
Aquele escrito pareceu-me, então, profético...
Talvez, como se soubesse que, em algum momento eu colocaria em cheque
toda a veracidade da expressão poética...
por serem tão importantes essas pessoas que desprezavam os versos
uma pelo seu afeto...outra por sua autoridade...
e, nenhuma delas encontrava alguma utilidade
em versejar sobre estrelas e desconhecidos caminhos
e todas essas coisas que a imaginação poética inventa.
Encontrei-me então numa encruzilhada
que só a mim importava, a mais ninguém
e tive que conversar muito a sério com meus botões...
pra decidir,enfim, que estes não pertenciam a meu cotidiano
e nem abotoavam minha prosaica blusa de pano...
mas saltavam como botões de rosas ante meus olhos...
a cada argumento lógico que me surgia.
Assim,ignorando afeto e autoridade, optei pela poesia
essa que muitos não conseguem nem podem sequer entrever...
e, não sei se lamento ou não por eles...
porque seus talentos em outras áreas se expressa
e a eles, o mundo não se cansa de reconhecer.
Só lamento, sim, por essa injusta solidão
a que se condena o poeta
quando enxerga sozinho as sementes de transformação
em si mesmo e em todo mundo ao redor...
(mesmo cultuando a inutilidade de todas as coisas...)
Enquanto aqueles seres geniais,
responsáveis pela construção deste mundo
passam distraídos por sua Musa inspiradora,
sem jamais reconhece-la...