Da [per]feição sincera

"Era pra ser perfeito" - diríamos. "O problema sou eu e não você" - diria eu. Mas o desencaixe vai além de qualquer desculpa clichê. Ambos sabemos que polos iguais não criam energia - ou sinergia. Iludir-nos-íamos ao aceitar que a perfeição fosse possível quando tão distantes, estamos um do outro. Tu és outono e eu primavera. Duas estações coladas em outras. Estamos no mesmo planeta, mas quando o sol me ilumina, as estrelas te clareiam. Somos distantes até na rosa dos ventos. Você é norte, e eu sul. Se fôssemos, cada um, a face de uma mesma moeda, seria ideal: estaríamos colados um no outro. Mas sou cédula e você cartão.

No mundo, o que mais há são coisas distantes umas das outras. Até pessoas, sobretudo as propensas a se amarem. Mas o problema não é de nenhum de nós. Afinal, perfeição [no amor] é algo inconcebível quando os olhos olham em direções opostas e os pés seguem rumos contrários e em solos diferentes. Seus pés caminham sobre a dureza do concreto. Eu passeio na maciez da terra. Quando não é recíproco só há sofrimento gratuito. Não se mergulha [no amor] sem saber na[dar]. Não se faz discurso sem palavras. Não podemos viver juntos sem que nos amemos. Penso que felicidade no amor é andar de mãos dadas. E a gente nunca se deu de fato.

Por fim, Isentemo-nos de qualquer culpa. Vamos parar de protelar com desculpas do tipo: “Não era pra ser porque não era”, “O destino conspirou contra”, “Você merece alguém melhor que eu”, e sermos finalmente sinceros: nunca nos dispusemos um ao outro porque jamais nos amamos. Sem meias palavras.

Somos livres agora. Libertamo-nos de uma prisão sem sentido. Acredite, esta foi a maior generosidade que recebemos um do outro: a sinceridade.

Por isso, desejo que seja muito feliz. E assim, também serei.

Adeus!