Dos abusos, da malícia, do suicídio e da negligência: o que é seu? O que sou eu?
Ouço seu choro e ele não existe, aonde estão suas palavras de amor tão somente imaginadas?
Sinto seu toque e da minha boca sonhos vomitados despencam pela sacada.
Aquele braço quebrado foi enterrado e os vermes que dele saíram mataram as flores.
Cadê as mentiras que alimentam estes latidos estridentes que esperam a morte chegar?
E a fome que preenche esse ventre vazio, que sangra molestado e estraçalhado? O que ela quer de ti?
Deita-me nua sobre as roupas sujas e o imundo me inunda, sua mão tapa a minha boca e a bondade que ainda havia restado é lavada de meu corpo.
Seu toque me atira, engole-me e me derruba por todos os cantos implorando pela morte.
Dos contos, invenções que me distraem desta vida enquanto os porcos cospem em mim suas vontades e mentiras.
Alimentam-se dos meus sonhos, dos meus choros, dos meus medos, drogados, imóveis, indefesos, ingênuos.
Enquanto você, disfarçado me enganas, entra e sai quando quer de mim, levanta-me e me atira entre os carros onde não encontro nenhuma piedade.
Em meu corpo desconta a sua raiva do mundo. Não consegues enxergar o que fizestes?
Os pesadelos, hoje, seguram a minha mão cheia de comprimidos e forçam contra minha boca um copo d'água empurrando todo esse veneno pela minha garganta.
Sinto-os cortando meus pulsos, tomando o que sempre disse ser seu.
E por fim, como sempre, imploro: Leve-me ou leve estas memórias de vocês.
Sei que nunca serei ouvida.
Imploro-me: Livre-nos desta agonia, a de viver.