[A poesia: Ah, se os cães pudessem...]

Eu faço poesia quando amo, quando falo, quando escrevo, quando olho, quando paro de olhar, e quando fico em silêncio... Poesia é movimento: enquanto caminho, faço poesia também! Eu e o resto do mundo somos assim... uns intencionadamente poetas, e outros, poetas sem o saber — são poetas mesmo que tenham ojeriza disto, do fabricar poesia com os atos das suas vidas!

Alguém pergunta sobre enviar poesia para alguém.... Às vezes, parece-me uma ousadia, ou uma invasão, o ato de enviar uma poesia para alguém... tenho medo disto, pois já recebi ofensas, coisa assim, como ser chamado de "tendencioso"... etc... e o pior é que a pessoa que me disse isso é feia como o rascunho do mapa do inferno! Aprendi: não gosto de lidar com gente feia não, a feiura é sim, o primeiro problema da pessoa! Via de regra, os feios agridem os outros... têm complexo do sapo que cuspiu no belo vagalume [escrevo sem hífen, oras...]!

Talvez a poesia deva ser exposta para que possa ser encontrada assim, abruptamente, quase que por acidente... ou então, depois de vista num relance, ser buscada por necessidade [de cada pessoa], do mesmo modo que a gente volta, e torna a olhar um objeto com mais interesse. A poesia deve encantar a gente num lance rápido do espírito, deve nos capturar em voo... sem análise - analisar seca, apodrece!

Relação, ligação, conexão, unintentional sense of sharing, ou ainda espontaneamente taking sides with... e é claro, o risco [de ser afetado] Aí, nesses espaços está a poesia. Quem quer poesia que a busque, por aí, oras... e quem não a quer, passe ao largo dela, e seja rápido, para desocupar o caminho! Afinal, a leitura não é coisa para todo mundo não; pode-se muito bem viver sem leitura!

Enquanto a gente a lê, a poesia cheira... poesia! Ou será uma coisa de sinestesia?! Ah, se os cães pudessem ler e gostar de poesia... seriam clientes excepcionais da dita cuja! Os cães nunca mentem sobre o que gostam... Seria lindo, seria gratificante vê-los farejar "poesia"... e sentarem-se nas patas na traseiras, para ler o poema. Poema lido por um cão seria poema apreciado mesmo! E mais: sem elogios pueris, falsos, sem bajulações fúteis — haveria um silêncio aprovador, um silêncio de cão...

Esse miolo-de-pote passou de exagerado. Mas nem me importo: eu escrevo como um louco que grita sem se importar em ser ouvido.

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[Desterro, 14 de março de 2014]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 14/03/2014
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