"O ÓBVIO É UMA FRUTA SEM SABOR "

Sempre tive amigos,

Os melhores foram os que me questionaram,

aqueles que me mostraram o meu avesso.

Detesto os insonsos e os pucha-sacos.

Sempre preferi os que me levaram a caminhos imprevisíveis,

Nos quais encontro novas realidades,

Como aqueles que riem comigo e se abstêm de rir de mim.

Quantos bons amigos já se foram e compadeço-me

Dos que ainda cá estão. Amigo é quem nos ajuda

A dar a volta por cima e nos levanta

Quando temos a alma devastada.

Aprendi que se aprende com os próprios erros

E que o conselho é uma coisa óbvia como fruta sem sabor.

"...já me volta o tempo de lembrar."

daqueles que não pisam mais na terra,

Quisera chamar todos para a vida,

aqui vir ou ir é volta para a casa.

Teci um sudário branco para os que se foram,

E nada lhes peço, da torturada boca.

Que meus amigos me tenham de lembrado,

Às vésperas de ser eu mesmo o recordado.

Meus cabelos brancos, neve derretida

São lágimas da vida e eu, amigo de tantos

Aguardo a saída da vida, para que possa eu,

Partir, mas que não tenha que pagar a Caronte

O óbulo de seguir através do Estinge tão mal agradecido." *1

*1 (Adaptado de um texto de Ana Akhmatova)