A visão

Ele me chamou nesta noite. Eu estava ocupada a dormir e relutei um pouco antes de sair do meu sono profundo e acompanhá-lo além da minha cama confortável...

A grama verde e macia, bem cuidada se estendia além dos meus olhos. Uma visão finita.

No centro o chalé num tom amarelo, somente um cômodo, pequeno e diferente. Quanto mais me aproximava daquele lugar, eu sentia uma paz a invadir meu coração e acalmar meus pensamentos. A luminosidade refletida nas paredes estreitas feitas de algum material leve.

O telhado baixo e recortado cobria a estreita varanda. O chão de terra batida ou algum tipo de lajota cor marrom. A rede na varanda e fiz como se fosse sentar nela, mas a voz me pediu para entrar.

A estreita porta no centro ladeada por duas janelinhas quadradas.

Não, não tinha janelas. Apenas a abertura da porta ladeada por dois quadrados menores ao nível da janela.

Entrei devagar para saborear cada detalhe.

Em frente a porta outra abertura na parede, que se abria para um cenário lindo de muito verde, mas finito.

Do lado esquerdo, o pequeno e estreito colchão revestido por um tecido claro. Senti o corpo cansado e uma vontade enorme de deitar ali, mas a voz disse que ainda não era a hora.

No canto à direita uma espécie de fogareiro de barro ou outro material desconhecido. Apenas uma frágil chama. Não havia nada que sustentasse o fogo. Acima da chama uma jarra transparente. O vapor lançava ao ar um perfume relaxante na cor azul.

Nada mais.

Perguntei onde estavam os outros móveis, mas a voz disse que quem vai para aquele lugar não precisa de alimentos e nem roupas.

Olhei novamente para aquele espaço intrigante e reconfortante.

Meu corpo ansiava deitar ali, ao chão, sobre o colchão.

Novamente a voz disse que não deixasse a impaciência cegar minha alma.

Em silêncio saí dali.

Fui caminhando descalça sobre a grama verde e macia. O imenso gramado simetricamente formando um grande quadrado.

Quanto mais me aproximava daquele finito, era invadida pelo medo.

Eis que avisto o mar, as ondas furiosas batiam sobre o paredão de rochas enormes.

Embora o cenário fosse lindo parecia distante e inacessível.

Desci o olhar para o precipício bem abaixo dos meus pés e tive a sensação de que ia desmaiar.

Ergui meu olhar para o finito daquelas águas que pareciam estar a quilômetros de distancia.

Impossível descer sobre aquelas rochas bolorentas.

A voz disse que haviam quatro saídas.

Só então percebi que havia do outro lado, uma mata densa e espessa.

As árvores eram todas iguais, do mesmo tamanho e num verde claro.

Não ousei chegar mais próximo.

Galhos secos entrelaçados fechavam o acesso entre as árvores, formando uma cortina.

Estava muito escuro e senti medo de desafiar aquele lugar.

Mas tão logo eu estava na outra ponta do quadrado.

Ah que cenário mais belo!

Num nível muito mais baixo, via montanhas e planaltos a se estender ao infinito sob vários tons de verde.

Eu senti que minha alma poderia voar, senti medo de ousar.

Novamente o abismo bem aos meus pés.

Meu corpo vergava para frente, mas a voz me chamou pelo nome.

Foi quando avistei a noite.

Do quarto lado do retângulo uma trilha circundada pela escuridão negra e invisível.

Eu estava diante de uma tela viva que guardava cenas de outras passagens. Mistérios que envolvem a minha alma.

Quis voltar ao chalé, mas a voz era grave e enfática.

Ainda não era minha hora!

Denia Dutra
Enviado por Denia Dutra em 19/05/2014
Código do texto: T4812101
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