Segundo

Um encontro acidental. Não imaginava o que estaria por vir. Poderia ser qualquer coisa, mais a expectativa, a ansiedade, o esperar pelo esperar do outro. O que achar? O que achou? O que ficou e o que viria? Fazia tanto tempo, desses que só justificam um encontro assim, sem querer, por nenhum dos dois. Mas aconteceu, com uma sensação entre a surpresa e o susto, o espanto e o esperar. 'Nossa, mas é você?' seguidos dos clássicos 'Como você está? Está diferente, mudou, que cabelo é esse, andou malhando?'. Os 'quems' não importam, ambos pensavam o mesmo, de uma forma ou de outra. Estudaram-se, como estudaram no passado. Ah, o passado, esse fantasma, esse morto-vivo que insiste em andar por aí, cambaleante, mas de alguma forma vivo. Justo, o passado só tem vida por aqueles que o viveram - e que se lembram. Não fosse por isso, não haveria sentido em existir. Existir é uma lembrança.

Os olhos se esquadrinharam, um ao outro. Não sabia o que esperar da segunda pessoa, mas em se tratando da primeira, sentiu que seus olhos eram esmurrados por dentro, atrás da íris, num movimento desesperado de pedir atenção. Queria que olhassem para eles, queria que fossem notados. Só queria. Mas nem todo 'só' é composto de simplicidade. A carga do que já foi cobrou a sua parte e as coisas ficaram difíceis. Os olhos mal se encontraram, em algum lugar entre a timidez e o receio, pulverizado pelo amargo. Mais uma vez, não sabia o que pensar que aquele pensaria. Jamais saberia. Jamais saberá. Foi um desses espasmos do acaso em que o inesperado se faz presente com os fantasmas do passado tornando o futuro uma utopia.

Apesar de todas essas linhas, o que se passou não durou segundos. Surpresa, sim, um turbilhão de pensamentos, mas era impossível se manter por mais tempo naquele momento com tamanha profundidade de significados. Tinham de ir. O êxtase foi varrido pra debaixo do tapete e deram as costas sem faltar com uma educação mais engessada que os sentimentos exalados entre ambos.

Continuaram seus caminhos.

-G-