Aquilo que é necessário

Quero fazer poesia, mas as linhas frias da norma a ser estudada me obrigam a anular meu desejo.

E da inquisitória obrigação em aprender e reproduzir o que voga o normativo, crio consolos, elaboro desculpas para encontrar o "Q" de humano em códigos, portarias e tratados.

Penso no elemento humano da norma, com intuito de aproximá-la da poesia. Penso: não é nas páginas, não é no papel, nem na voz que reverbera em leitura por paredes de júris e bibliotecas que dão significação à poesia, assim como também na lei.

Confronto lei e poesia, criando pontos de convergências alinhavados de argumento que nos dois, lei e verso, as letras dispostas no papel serão só meras letras se não forem significadas pelos seus decodificadores.

Volto a pensar em poesia e como preferia tê-la agora como objeto de lavoro. Como destino irônico impede-me agora de fazer verso pela obrigação avaliativa de ruminar a norma?

Agora que tenho o combustível próprio do Azevedo, do Byron, para a poesia, me falta o carro onde possa utilizar. Pensei em utilizar um par de "inutilia truncat", acrescentar um ou outro jargão rebuscado pra valorizar a rima porvir, mas não precisa, minha poesia se lê nos olhos, na garganta que engole a seco, no sentimento que silencia na voz e que grita no corpo.

Queria ser do tempo do Thales, o Azevedo, onde a condição de mexer habilmente com palavras em sentimentos podia nutrir a condição econômica do existir. Hoje faço a poesia como não manejo as normas.

A norma, fria e expressa, quero usar como um cafetão que usa a prostituta para ganhar o sustento que lhe garante o corpo físico vivo no sistema em que tudo pode ser comprado. A poesia, sopro de vida que alimenta, uso para alcançar o ser para além do existir. Do verso uso a voz que saiu da garganta de Shakespeare e encontrou ressonância na garganta de todos aqueles que viveram pra falar de sentimento.

A pragmática da norma enche meu estômago e o verso bate meu coração, suspira meu respirar, sofre e alegra meus sentimentos, traduzindo enfim o mais verossímil que pode ser dito do meu viver.

uiliam santana
Enviado por uiliam santana em 10/06/2014
Reeditado em 07/08/2015
Código do texto: T4840355
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