Patriarcado
Quem é este homem
Sem rosto
Com milhares de expressões
Que com sua opressora voz
Quer me diminuir?
Quer me calar?
Censurar-me?
Matar-me os sonhos?
Quem criou essa cultura
Que me oprime
Que me sufoca diariamente?
Que mata mulheres, gays, índios
Pobres, negros e poetas?
Por toda a minha vida
Eu tentei incessantemente
Buscar respostas para toda a minha dor
E você estava aqui
Do meu lado
Nos meus pensamentos
Me dizendo: Isso não pode!
Mas que coisa feia!
Transformarei toda a minha frustração
Toda as minhas dores e angústias
Em ódio
Ódio que me calou
Que me matou quando eu não podia me defender
Quando eu era um ser puro e frágil
Eu era apenas um bebê!
Como pode ser tão cruel?
Este homem
Que tem muitos rostos
Muitas vozes
De fato se esconde
Por detrás de nossa cultura obscura e podre
Cheia de genocídios
Cheia de ódio
Cheia de tortura às mulheres
Negros e os ‘imorais’ do gênero.
Por todo estes anos você me pisou
Mesmo quando eu já estava caído
Sangrando o meu âmago
Entorpecendo meus sonhos
Destruindo minha sanidade.
Vou fingir ser obediente
Daqui em diante
Só para te ver cair
E fuder toda a maldade que você me fez
Vou cuspir toda a merda que engoli
Quando não tinha forças para negar
Quando acreditava que o mundo
Era um lugar seguro para se respirar.
As folhas eram verdes
Até você chegar
Agora estão negras
Das cinzas de árvores queimadas
De pó de minério
Que destroem nosso planeta
Nos adoecem
Em nome do progresso que só nos afastam
Nos tornam mais doentes
Caídos em hospitais sem médicos.
Sou o seu filho bastardo
O filho que você nunca quis ter
Que negará o seu trono
E dará para o povo destruir
Queimar junto das mentiras que ouvimos
Desde que aprendemos a ouvir
E que só enxergamos quando estudamos
E lemos com a alma
O mar vermelho de sangue
De milhares de inocentes.
Você, pai
Criou um chão cheio de buracos
Para que eu pudesse cair
Parabéns! Deu certo.
Mas eu me levantei
E agora vou me vender
Como uma mercadoria podre
Como um produto fabricado vencido
Em que não há devolução
Nem reciclagem que te salve da tua desgraça.
Por milênios
Fomos fabricados
Para o sustento do teu Poder Sagrado
O homem criou Deus para castigá-los
E obedientes, servimos você fielmente.
Um belo rebanho
Guiado por pastor que nos leva ao precipício
E drogados vamos
Caminhando cheios de estigmas
Não de um Cristo que se foi por nós
Mas de um Cristo que você mesmo matou.
Alienados somos
Pelos livros que recebemos nas escolas
Pela má formação dos professores
Pelo despreparo proposital
Para que assim, haja o teu Caos
Que és teu filho mais Sagrado
Que nos destroem a subjetividade
Tornando-nos sujeitados
E não sujeitos capazes de liderar ou obter poder
Somos castrados na Educação
Desde o berço de casa
À casa da vizinha
À igreja fascista
Até os telejornais racistas e classistas.
A moral nunca houve
A ética sempre esteve perdida
O que você fez de mim não tem
E nunca terá perdão
Serei eternamente ingrato
Por todo mal que me fez
Me senti sujo, podre e imoral
Por uma natureza diversa
Que me fez
Que nos cria para a sua beleza e semelhança
E no entanto, eu fui agredido
Pisado em via pública
Chutado por homofóbicos
Que a Sagrada Igreja batiza
Todos os santos dias.
Já fui chamado de Judas
De possuído
De imoral
De má influência
Que cegaram estes olhos que me julgam
Que escurecem a visão destes que não têm nenhum estudo
Nem capacidade crítica para contestar
Muito menos questionar.
Pois nasceram para obedecer o Papai do Céu
Que faz jorrar todos os dias sangue de pobres
Que deixam morrer a pauladas e facadas
Um jovem que como eu
Que só quer viver
Que tem muitos sonhos
Para alcançar
E não morrer por simplesmente,
Existir.
Acabou o terror Senhor Feudal
Eu ditarei as minhas regras
E te farei cair
Até sangrar
Até você parar de respirar.
E quando os seus olhos estiverem gritando
Socorro! Pare!
E sua voz sufocada,
Não puder gritar o que tenho fazer Senhor
Eu te darei um lindo sorriso
E o meu último golpe
E cuspirei em sua face
Todos os traumas que vivenciei.
Cansei de teus castigos
Cansei de sangrar escondido
Cansei de andar por debaixo de suas sombras
Sem abrigo
Sem luz no espírito.
Cansei de adoecer ao sol
Que me queima com antidepressivos
E no abismo que há somente em nossas mentes
A gente grita todos os dias por dentro
Mas ninguém quer ouvir
Todos querem ser os mais belos
E os mais felizes.
Cansei de acordar na miséria
Física, psíquica e orgânica
Pois diminuídos fui
Juntos dos meus amigos
Que se iludem com promessas de um paraíso
Que não existe e nunca existiu.
Nascemos mortos
Miseravelmente humanos
E industrializados fomos
E somos vendidos a preço de banana
Aos nossos inimigos
E enlatados somos
E chegando lá
Ouvimos gargalhadas do Terceiro Mundo
E de humilhação em humilhação
Nossa imagem é vendida
Como um bando de macacos numa floresta
Que são cordiais com turistas
Para ganharem suas gorjetas
E assim vamos avançando
Na nossa iminente desgraça.
É patriarca,
A sua ambição é o nosso fim
Nossa dizimação
Nossa tristeza trágica em pontes potencialmente suicidas
A sua glória reina nos telejornais
Onde mulheres são mortas todos os dias
E negros são presos sem nenhum direito
Militantes são torturados
Para manter o silêncio dessa estrutura Igreja, Exército e Estado.
Pai meu e de todos infelizes
Eu te odeio profundamente por tudo que me deu
Por tudo que fez por mim
Pois só assim conheci a morte desde o primeiro beijo da minha mãe
Até o último em meu caixão parcelado em doze vezes
Para alimentar juros em seu Capital
E padecermos até na morte que nos ronda e nos cerca o tempo inteiro.
É querido Pai,
Eu voltei
Mais forte
Triste e resistente
E nada me calará
Até ver sua morte.