A morte do poeta
Estes dias,
Tenho andado triste
Um corte foi me feito no coração
E melancolicamente,
Sinto-me totalmente inerte.
É inverno,
E os meus pensamentos pesam
Sob minha frágil mente.
Meus sentimentos,
Escurecem-se.
E em meu quarto,
Repouso.
E durmo o dia inteiro.
Os dias já não são luzes vivas
São sombras que me entristecem.
Sou um homem triste
Triste sou desde o ventre.
Lá era tudo seguro e quente
Como o sol,
Estava aquecido e protegido
Nunca corria perigo.
Eu conseguia ouvir as perturbações do mundo
Mas não os via
Então, só sentia a tristeza de minha mãe
Mas nada entendia.
Então,
De tristeza e dor, eu nasci
Vim para os Caos.
Não me lembro de ter chorado ao ser expulso do paraíso
Mas soube depois que muita coisa ruim aconteceu
Quando estava lá dentro
Aconchegado em meu perfeito abrigo.
A dor,
A tristeza,
Me fizeram.
Filho das injustiças
Eu cresci assim
A sublimar as mazelas em que em mim se apoderaram
Isso quando pode contra-atacá-las.
Tem dias, como este
Em que elas me dominam o espírito
E entorpecido de imensa dor
Em meu âmago eu sinto o castigo
E não vejo Deus
E os demônios estão comigo
E então,
Sozinho,
Eu pereço em meu quarto escuro
E sombrio.
Homem feito,
Da eterna melancolia
Eu não escapo.
Ela sabe me pegar de jeito.
E corta-me as asas
Para que, com ela
Eu fique preso as dores do mundo
Me enfraquecendo,
Tirando-me toda a vitalidade presente.
Então, o meu fraco coração
Sangra e palpita em minhas mãos
Escurecendo toda a minha visão.
A visão de um mundo sangrento e sujo.
Imundo.
Eu não escapo.
Eu morro junto.
Essa é uma maldição
Que eu terei de carregar até o fim dos tempos
Meus pequenos passos e eu
Rumo ao meu incerto destino
Carregando toda a angústia de uma alma sonhadora
Arrastando todos os dias esse eterno vazio
Que me esmaga
Que me espanca
Que me sangra,
Sem chance de uma possível estanca.
A tortura do poeta romântico é ver o mundo
Com sentimentos
Eis ai, o seu inferno
Enquanto todos veem,
Ele enxerga.
Enquanto todos vivem,
Ele morre em sua existência.
Seus versos são carregados
De lágrimas pesadas de medo
De um espírito carregado de terror
Por tudo que já viu
Desde que ele chegou.
Seus contos são uma súplica
Um pedido de socorro urgente
“Alguém me ame, por favor!”
“E me salve de mim mesmo!”
Poeta triste
Olhos cinzentos
Alma nublada constantemente
Carregas dores de quem nem conhece
Mas sabe que existem
E por isso consente.
Com a miséria existente nessas almas
Aflitas e desesperadas
Cansadas de serem olhadas despercebidamente.
A cada rua do centro da cidade que passa
Sente o cheiro da podridão da humanidade
Perfurando seus pulmões
E nesse descontentamento,
Se perde em becos escuros de seu inconsciente.
Nascido de uma família carente
O poeta sente falta de amor
Carece de um abraço
De um beijo quente
Que lhe devolva a paz
E descongele seus medos persistentes.
Em seu cantinho escuro,
Onde escreves o que sentes
Ele carece de alguém que lhe ame verdadeiramente
Que lhe traga abraços nos dias frios
E que torne alegre os dias mais nublados em sua mente.
A morte do poeta
É a falta de amor
É o seu descontentamento constante
É a falta de um sorriso que ilumine seus olhos
Devolvendo-lhe a beleza ausente.
E em sua solidão infinita
Que o abraça diariamente
Ele só quer ouvir de alguém
Que tudo vai dar certo
Que tudo ficará bem,
Mesmo quando tem de enfrentar
Seus demônios inconscientes
Ou se perca de si mesmo em seu consciente.
Pro poeta,
Não lhe faltam momentos
Em que se sente um vira-latas perebento
Abandonado nas ruas imundas deste mundo
Rejeitado por todos
Por não se enquadrar nessa normalidade decadente.
A morte do poeta
É essa angústia latente
Dia após dia
Anos após anos
Que lhe dá sempre um nó na garganta
Escurecendo cada vez mais o seu passado
E cegando-o no presente.
A morte do poeta é existir
E não saber enxergar sem sentir
Em seu sentimentalismo
Ele mesmo cai
Desesperadamente.
E no abismo de si mesmo
Ele se perde constantemente
E depois se reencontra.
E quase sem força alguma
Acredita que há ainda na vida
Alguma razão para tudo isso
Para todo esse tormento
Que o derruba
Que o faz cair sempre
Desde que se entende por gente.
Mas o poeta é um sonhador
E do seu destino ele não abre mão
E nem esquece.
Mesmo a sentir em sua essência
Infinitas dores em sua existência
Ele às vezes até enlouquece.
Seus olhos enxergam
O que ele não suporta ver
E em seu próprio apocalipse
E nessa visão,
Ele adoece.
Mas o que é a loucura
Para quem já saiu dela?
Sagradamente ele vive em seu mundo
Secretamente ele lastima, chora
Quer ver a luz
Quer encontrar a saída
Mas ninguém o encontra.
Ninguém sabe o que ele sente.
O poeta nasce triste
E para isso não há cura
Pois o poeta é triste já no útero do seu sentir
No paraíso,
Ele já sentia as dores de ser mais um existente.
Afinal,
As existências de todos padecem
A do poeta,
Já foi moída,
Embalada num comércio clandestino do mundo
E carregada injustamente para presente.
Seus sentimentos são puros
E ingênuos
Sua personalidade,
Contraditória e paradoxal
Incoerente,
Mas ele se entende.
Os outros não.
Porém,
Nos versos ele se dispa de tudo
Que o limita nessa sociedade excludente
De uma cultura sombria e absurda
Ele é intenso em seus versos
Como as dores que sente.
E quando termina o seu versejar
Ele ressuscita
Como quem estava morto de tanta angústia pesada
Como se estivesse sido jogado às ruínas do mundo
Como quem foi arrancado de seu sono profundo
E acordado, assustado
Depois de mais uma crise depressiva
Em que deliras incessantemente
Ele enxerga uma ponta de luz fraquinha
E pensa:
Óh, Deus!
Que vida triste...
Ele então,
Juntamente de suas cinzas
Cria seus versos
De sua morte existencial
Ele escreve,
Para afastar temporariamente,
A sua melancolia.
Óh!...
Pobre coitado é o poeta...