Meus Sentimentos

Os meus sentimentos correm

Como as águas dos rios

Os bons

Sim, eles se vão.

Os ruins ficam

Para me fazer companhia na solidão.

Na escuridão eles ganham vozes

E me perturbam o dia inteiro

Tentando-me

Seduzindo-me a desistir.

Ah! Os mais belos sentimentos

Como me aqueceriam...

E me livraria de todo esse frio

Que estes perversos sentimentos me pregam

Perfurando-me o peito

Num golpe fatal

Afastando-me de todos

Adoecendo de medo.

Ah! É primavera...

Eu quero sentir a beleza das cores

Quero sentir o aroma doce das flores

Quero contemplar as maravilhas dessa mágica estação

Que poderá espantar de mim,

Toda essa solidão.

O meu jardim está vivo!

As flores acordaram de seu sono profundo

E pedem abraço

Pedem o meu calor

Mas em minha alma ainda é inverno.

Em meu espírito é Outono

Onde os bons sentimentos caem

E sobrevoando ao chão

Na velocidade dos ventos

Afastam-me de toda a beleza da Natureza

E cravos sombrios perfuram meu coração.

Daqui de dentro,

Vejo os mais belos anjos caindo

Sangrando,

Sem asas

Para o meu espanto.

Eu temo não ser protegido

Este mundo é um perigo

E em meu âmago eu sinto um imenso vazio

Que me tortura

E me arranca a última esperança.

Em minha alma

A neve congela os meus bons pensamentos

Bloqueiam os raios de sol

Que contentes,

Querem me enxergar por inteiro.

Ah! Canção harmoniosa dos ventos!

Trazes pra mim

O meu amor que não me vê há tempos?

Ou ele se foi com as folhas secas do Outono?

Que mortas estão agora

Sobrevoando nuvens escuras

Num céu sem cor

Sem vida alguma?

Mas hei que vem a chuva!

E em mim cada gota se faz oceano

Um mar de dores e revoltas

Que me queima por dentro

Todas as minhas esperanças.

E em cinzas, tento catá-las em migalhas

Para que ao pôr-do-sol elas ganhem vida

E a Lua me traga o meu amor de volta.

Condenado estou,

A sofrer todo este descontentamento?

Perdido estou,

Por não encontrar a minha alegria na Primavera?

Como hei de sorrir,

Se a minha mais bela flor

Em meu jardim não se encontra

E em mim faz tanta falta?

A chuva ainda cai

E molha minhas feridas

Que ainda não estão cicatrizadas

E ardem em minha alma.

Ah! Os meus olhos estão tristes...

Tudo me parece vazio e ausente

Todos os esforços da Natureza me parecem inúteis

O que será de mim,

Nesta noite que chega depressa?

Que num canto escuro absoluto

Jogas-me às misérias de minha alma sofrida e gélida?

Eu peço a Deus

Um pouco mais de amor

Para que os meus olhos me enxergam

Enxerguem a beleza exterior

E assim, venha inundar o meu ser

Com toda a beleza que há nas árvores

Que florescem cheias de calor.

O desânimo me toma o corpo

Empalidece-me

Consome-me a alegria

E a melancolia se faz imensamente presente.

A energia de meu espírito se foi

Juntamente dos corvos que sobrevoam a noite

Atrás de corpos sem almas

Consumindo sua carne e suas vísceras.

Em meu peito cada gota se junta as minhas lágrimas

Que de tão pesadas

Afundam-me em intensa agonia.

Eu bebo da pior água da amargura

Infectada, escura

É um convite à minha insanidade?

É uma tentativa de me fazer voltar a minha loucura?

Chorando às minhas sombras

Minha angústia

Meus castelos de ilusões se desfazem

Caindo ao chão de repente

E iminentemente

Debruço-me em desilusões constantemente.

Estas desilusões me acompanham desde a infância

Condenado estou,

A viver sem esperança?

Então, leve-me ó Deus!

Este coração vazio que sangra lágrimas salgadas

De tristezas reprimidas por todos estes anos

E me cante uma canção de ninar

Pois talvez eu encontre algum descanso.

Entorpecido em minha dor, estou

Neste abismo de dores e traumas que este coração carregou

Eu me perdi do caminho várias vezes

E sem algum abrigo

Fui esquecido por todos.

E o desespero bate-me a porta

Escuto ela dizer, sussurrando em meus ouvidos

É a sua vez querido...

Ó, Deus!

Não vês que estou sofrendo?

Minhas sombras querem se aproveitar de minha carne

Que apodrece a cada instante

Sem o meu amor por perto.

O que ainda me resta?

Os sonhos?

Se é com ele que sonho todas as noites?

Se é com ele que eu adormeço em paz de espírito?

Abandonado em meus delírios estou?

A viver imaginando minha alegria ilusória, serei?

Abutres humanos comem minha carne

Que sangra sem nenhuma estanca

Diante de meu fracasso

De todos os belos anjos caídos, eu me entrego?

Meu semblante carrega todas as dores do mundo

Minhas costas pesam com as tristezas que enxergo

Desde o pobre mais infeliz

Ao rico mais solitário.

Se este é o meu castigo por ser demasiadamente romântico

Por que não me levas logo deste inferno em prantos?

Não há mais nada que me prende aqui

Neste terreno de infinitas dores sem analgésicos

De traumas sem curas

De fantasmas sem descanso.

Eu acordo todas as noites em pesadelo

Me vejo caindo

E num abismo infinito eu grito

E ninguém me ouve

Ninguém está vendo.

Invisível estou aqui

E gradativamente, enlouqueço

E daqui uns dias,

Eu já não saberei mais quem eu realmente sou

Se uma esperança vagando em plena escuridão

Ou uma ilusão procurando um bom e honesto coração.

Eu estou me perdendo de mim mesmo,

Enterrado por tudo que vi e senti por todo este tempo

Eu não posso partir?

Meu reflexo no espelho não é o mesmo

Vejo um vulto que se esconde por detrás de mim

Será minha morte me assombrando?

Ou serão os meus fantasmas de infância me assediando?

Então aqui,

Sou enterrado vivo

Respirando.

Sem compaixão de meu Salvador

Sem alguma ilusão restando.

E em meu funeral

Meu corpo estará sangrando pelos olhos

Lágrimas negras de infelicidade

De incertezas para onde irei

Quando fechar os meus olhos de vez.

E como todo estúpido humano,

Levarão flores para o meu túmulo

Onde não poderei tocá-las

Porque em meu jardim

A mais bela flor se fora há anos

E de flores eu não preciso.

Eu só peço o meu amor de volta

Onde a Natureza não se ausenta

E toda a beleza do mundo me penetra

E não perde o seu encanto

E de alegria e felicidade

Eu ressurjo das cinzas

E de meu túmulo eu levanto

Para abraçar novamente a vida.