O que aconteceu?

Meu Deus, como o tempo passou depressa.

Ainda ontem, eu reclamava das tediosas aulas de matemática no ginásio, hoje me perco tentando me lembrar da feição de alguns colegas de classe. Ainda ontem eu cortava a fila da merenda e matava aulas para jogar futebol nos campinhos da cidade. Hoje de manhã, eu roubava frutas das árvores dos quintais da minha rua.

Logo quando acordei fiz uma jogada de craque e corri para os braços da torcida... fui ovacionado!

Se não foi assim, pelo menos era assim que eu via.

Semana passada, passei o domingo todo vendo meu avô trabalhar no fundo do quintal. E, dias antes, eu rolava sobre as cobertas lutando com meu pai, dando-lhe uma surra daquelas. Eu era o campeão do mundo de judô, era um astronauta, jogador de futebol, cantor, ator, policial, piloto e tantas outras coisas etc.

Em suma, em uma lista interminável, eu era o que quisesse ser.

Eu tinha asas, tinha brilho.

A esperança e eu formávamos um só ser homogêneo.

Se perguntassem sobre mim, fatalmente a encontrariam. Se sentissem sua presença, certamente, eu ali também estaria.

Adorava o perfume que ela deixava em minha roupa. A forma como ela soprava em meus ouvidos: “Hei, se você realmente quiser... você pode. Pense! Se pode pensar, pode realizar!” ou ainda: “Nenhuma barreira é tão grande para quem sabe voar! Vamos, voe!”

Hei, sinto saudades de você.

Por onde andas?

Com quem tem falado?

Por que, raramente, da sinal de vida? Eu te fiz alguma coisa?

Quero que saiba que desde que deixou de ser frequente, meus olhos perderam um pouco do velho brilho. Ainda olho para a mesma rua, para a mesma escola, para o mesmo rosto, para as mesmas paredes e para os lugares por onde costumávamos andar juntos.

Entretanto, alguma coisa mudou neles. Está faltando sonho, está faltando cheiro, está faltando brilho!

O que aconteceu? Ah, esperança... sei que falas pouco comigo hoje em dia, mas suplico-lhe, diga-me o que aconteceu?

Então, de repente, tão audível quanto uma explosão, ela me disse:

– Você CRESCEU!

Matheus Medeiros
Enviado por Matheus Medeiros em 17/09/2014
Reeditado em 29/09/2014
Código do texto: T4965581
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