Em tardes frias

Às vezes sinto o nada de quando o mundo fica mudo.

O que dizer quando não há palavras?

Entre tantas coisas o vazio, porque nada agora afeta.

Galhos e folhas que deslizam soltos no ar sem direção em ruas retas que se encontram. Aqui, só as ruas se encontram, porque o que resta não desfruta de destino.

O mundo de coisas de todos os dias que me chegam sem licença coloquei dentro do bolso, embrulhado, para depois de alguns passos, desprezá-lo. Porque, agora, não quero mundo de palavras nem mundo de coisas. Quero mundo de sentidos para folhas de outono, em tardes quase frias quando o sol é apenas luz. No infinito de tudo o que é passível de pensar, quero o que jamais poderei compreender e que faça meus pés esquecerem as ilusões que os prendem ainda ao chão. Porque pés que flutuam não precisam jamais de chão de caminhos.

O mundo, agora, apanho com a concha de minhas mãos como se fosse minúsculos grãos de areia e, disponho, em plena liberdade de sentidos, ao vento.

Porque agora já não importa mais caminhos.

Josué Mendonça
Enviado por Josué Mendonça em 23/05/2007
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