Em tardes frias
Às vezes sinto o nada de quando o mundo fica mudo.
O que dizer quando não há palavras?
Entre tantas coisas o vazio, porque nada agora afeta.
Galhos e folhas que deslizam soltos no ar sem direção em ruas retas que se encontram. Aqui, só as ruas se encontram, porque o que resta não desfruta de destino.
O mundo de coisas de todos os dias que me chegam sem licença coloquei dentro do bolso, embrulhado, para depois de alguns passos, desprezá-lo. Porque, agora, não quero mundo de palavras nem mundo de coisas. Quero mundo de sentidos para folhas de outono, em tardes quase frias quando o sol é apenas luz. No infinito de tudo o que é passível de pensar, quero o que jamais poderei compreender e que faça meus pés esquecerem as ilusões que os prendem ainda ao chão. Porque pés que flutuam não precisam jamais de chão de caminhos.
O mundo, agora, apanho com a concha de minhas mãos como se fosse minúsculos grãos de areia e, disponho, em plena liberdade de sentidos, ao vento.
Porque agora já não importa mais caminhos.