ainda trovoa em mim
Trovoa. Lá fora não. Aqui dentro. E a melodia me faz pensar que, eu bem poderia te dissecar e expor as partes internas em praça pública. Órgãos, tripas, pele e sangue. Mas fiz pior: te expus a mim. Quis retocar cada contorno dos teus riscos abstratos com minhas mãos de seda. Emoldurei cada quadro da tua subjetividade. Mas com meu coração de ferro, te pendurei na minha galeria particular e te guardei em mim. Volta e meia eu paro, admiro, e retomo a vida. Retomo sim, e grata, pois cada detalhe dessa pintura que és, me garante um lirismo inspirado por décadas. Pelo quarto de chão verde que nos acolheu, pelos brancos lençóis, pelas garrafas de bebida espalhadas pelo quarto e pelo meu amarrador de cabelo que te serve de pulseira. Por todos os sórdidos e ternos detalhes da nossa obra lírica. "Setembro em enorme silêncio, distancia meu rosto..." mas, tempo nenhum poderá lhe roubar as notas que eu cantei primeiro, só pro teu coração.