O canteiro de lírios amarelos...

E neste exato momento, num exato instante e movimento meu,

meus olhos se colocam no canteiro de lírios amarelos

do meu quintal, do meu lugar de morar, bem à minha frente.

É certo, absolutamente certo, que esse canteiro de lírios amarelos

do meu quintal, do meu lugar de morar, é existente desde que me instalei

nesta casa, neste lugar onde moro.

É também certo que eu já o olhei de diversas maneiras, nas diversas formas

que eles se apresentaram a mim, em diversas ocasiões,

os lírios amarelos do canteiro de lírios amarelos

do meu quintal, do meu lugar de morar.

E de todas que eu me lembro – pois que muitas delas passam em mim,

pela minha memória, neste instante – nenhuma era igual à outra;

quer pelo tamanho, quer pela quantidade, quer pela cor ou posição de cada um

a ocupar o espaço do canteiro, quer pela posição de cada flor de lírio amarelo

a buscar a luz do Sol; sempre diferentes.

Eu consigo perceber claramente que em cada florada no verão,

ainda que seja o mesmo canteiro de lírios amarelos,

ainda que seja o mesmo o lugar que ele ocupa,

ainda que seja a mesma terra que abriga seus bulbos ou raízes,

ainda que seja a mesma estação de verão que os incita a viver,

e que, ainda, seja o mesmo Sol que venha para alimentar a vida na Terra,

e, ainda, também, que sejam os meus mesmos olhos a olhar pra eles,

ainda assim, eu posso jurar, por certeza absoluta, que eles não são

os mesmos lírios amarelos do canteiro de lírios amarelos

do meu quintal, do meu lugar de morar, do verão passado!

Mas, hoje, ao olhar para eles, eles estavam diferentes

de como eu os havia visto hoje de manhã;

estavam todos eles, sem exceção, fechados.

Não exibiam a sua beleza por completo, mas, apenas parcialmente,

encolhidos dentro de si mesmos.

Eu fiquei, por um momento, um só momento, desconectado.

Mas, logo entendi.

Os lírios amarelos do canteiro de lírios amarelos

do meu quintal, do meu lugar de morar,

estavam dormindo já!

Quanta beleza há neste fato!

Quanta beleza, doçura e ternura me invadiram o meu ser

naquele instante de mágico entendimento!

Quanta clareza!

Quanta lucidez e consciência este instante me proporcionou!

Clareza, lucidez e consciência da vida;

da vida que há em tudo, do movimento da vida igual em todos

os diferentes seres que compõe o Universo vivo que eu habito!

Da inquestionável presença de Deus em tudo o que nos cerca!

Amanhã quando eu acordar, certamente eles,

os lírios amarelos do canteiro de lírios amarelos

do meu quintal, do meu lugar de morar,

também irão acordar e, juntos, eu e eles,

iremos viver mais um dia

certamente maravilhoso porque eu estou feliz!