Na fila, ou sobrevivendo como Walker

É tudo espera tic tac, toim, estou em filas enormes, e depois dessa fila vem outra, e depois mais uma, estou esperando alguma coisa, só preciso ficar nessa fila, o homem da frente puxa assunto, mas já não quero falar com ninguém, uma mina atrás é gostosa, mas nem paciência e desejo pra isso tenho mais, no máximo será uma reflexão de punheta. Parto parto-me, nesa fila só me resta retalhos de retratos, traços malfadados e danados, aquele quadro onde meu amorzinho desgraçado estivera, aquele quadro exposto numa rede social que perambulava feito zumbi, sim mais um zumbi em fila, e tento ser a voz do zumbi que vagueia pela estrada buscando achar algo, mas para chegar a estrada é preciso antes sair de casa, é preciso, de alguma forma, permanecer vivo, é preciso estar atento e tomar esses remédios que gangrenam-me na terra mais um pouco. Estou em luto, totalmente fora da luta, a vida desgraçada já se foi, nem mesmo a espera me aquece, nem mesmo seus braços imundos me beijam, nem mesmo o medo me trás sangue na veia. Enquanto espero me perco, perto de mim só um grande resto, traços daquilo que foi, sou um cadáver alimentando-me do passado amortalhado, é isso, após me perder em zigue e zags léxicos tento encontrar o vocábulo certo, sou um zumbi na estrada correndo pelo passado, a frente muitos iguais a mim, e estamos em fila, e juntos ecoamos o coro da marcha fúnebre. Me dê seu cérebro, seu sexo. Me dê, nessa vida nada mais resta espera espera espera